Emily Pirmez e Paulo Bond em A Filha do Sol, de Maria Duda: o futuro da Terra em questão

Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Luciana Sandroni – Rio de Janeiro – 11.12.1992

 

Barra

Um Melodrama ecológico

O texto piegas e didático prejudica o andamento do espetáculo A Filha do Sol

O espetáculo A Filha do Sol, de Maria Duda, chega já desgastado por trazer como temática a ecologia, que esse ano foi bandeira de muitas peças infantis no Rio.

A Filha do Sol tem como pano de fundo o futuro do planeta Terra: a natureza foi exterminada pelo homem e os poucos habitantes que sobraram nem acreditam muito que um dia existiram o mar, o sol e a lua, e que essa natureza irá retornar ao planeta, como insiste em dizer uma velha feiticeira.

É um tema interessante, embora apresentado de forma confusa, ao misturar futuro e passado e ainda colocar um dragão que fala em inglês, não se encaixando no espírito melodramático da peça. Em certos momentos, o texto de Maria Duda se torna piegas e didático, esquecendo a aventura e a ação de que uma peça necessita. A impressão que dá é que a história nunca se inicia: o público espera algum conflito, pois há guerreiros e guardas por quem torcer e vibrar. Mas nada acontece, ficando um certo vazio na peça.

Também não se entende a autoclassificação de comédia, já que é um tema trágico e mesmo os personagens engraçados não superam os outros, mais sérios.

Os atores estão demasiadamente caricatos: os “bichos” são bobos e os “humanos” carrancudos; parecem personagens de peças diferentes.

O que se destaca em A Filha do Sol é a inspirada cenografia da própria Duda e de Mário Barrozo, que formam espetáculo plástico, com colaboração da iluminação de Milton e sua equipe. Mais uma vez, a mensagem ecológica sufocou o trabalho de dramaturgia.