Nos ensaios de Caiu o Ministério, de França Junior: em cena a comédia brasileira

Matéria publicada em O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 1985

Barra de Divisão - 45 cm

Festival de Teatro: Caiu o Ministério

O Festival de Teatro Brasileiro promovido pelo Grupo Tapa (à frente, o premiado Eduardo Tolentino) vem lotando, à tarde, o Teatro Ipanema, num desdobramento do Projeto Escola que em sua primeira fase consistiu em apresentar espetáculos nas escolas particulares e públicas da cidade. Agora, com a conquista da utilização do Ipanema até o fim do ano, as escolas é que estão vindo ao teatro assistir a uma pequena mostra do teatro brasileiro do século XIX. Apesar do sucesso alcançado com O noviço, de Martins Pena – com casas lotadas de segunda a sexta, sessões extras e até venda de ingressos em pé – o Tapa segue com a sua programação e estréia hoje Caiu o Ministério, de França Júnior.

Escrita em 1882, Caiu o Ministério é semelhante em estilo a O Rio de Janeiro de verso e reverso (1857) de José de Alencar, apesar de seu autor ser considerado um herdeiro direto de Martins Pena. Segundo Eduardo Tolentino, que neste espetáculo cede a direção a Celso Lemos (estreando na função, mas atuando no Tapa desde 1979), o primeiro ato de Ministério consegue “romper as quatro paredes da tradicional sala-de-estar da comédia de costumes, do ponto de vista dramático”, ao colocar a trama na Rua do Ouvidor. Segundo o diretor Celso Lemos, o que se verá em Caiu o Ministério é uma visão aguda de comediógrafo de França Júnior e diálogos que mostram como o Brasil pouco mudou, nos últimos 100 anos. Diz ele:

– A decadência e mazelas do Império lembram demais os últimos tempos da República que acaba de nos deixar. Em alguns aspectos, lembra também a Nova e suas já memoráveis dificuldades em preencher pastas ministeriais.

Se em O Noviço o Grupo Tapa se deteve em focalizar as relações familiares no Brasil, em meados do século passado, neste Caiu o ministério a comédia de costumes se volta para a política, numa sátira às dificuldades de formação de um Ministério (pouco antes da Proclamação da República) e sua conciliação com interesses familiares. Não houve nenhuma preocupação da direção em atualizar o texto, mas apenas em tornar clara a discussão central da obra, sobre o despreparo de nossas classes dominantes. Diz Celso Lemos:

– Continuamos importando remédios condenados e máquinas obsoletas, entre outros produtos – diz Celso Lemos. – Nossas elites são executivas daquilo que acontece lá fora.

Para poder montar Caiu o Ministério e Beto e Teca (no Planetário), o Tapa, que normalmente já trabalha com alguns atores que não pertencem ao grupo, precisou ampliar bastante seu elenco: além dos convidados, utilizou os “Juquinhas” – apelido carinhoso dos jovens alunos de Eduardo Tolentino (na CAL) e Renato Icarahy (na Martins Pena). Além de tentar formar platéias para o teatro, integrando conhecimentos de história, literatura e conhecimentos gerais (possibilitados também pelo debate depois de cada apresentação), o trabalho interno do Tapa se caracteriza também pelas oportunidades de atuação oferecidas a seus jovens integrantes em todas as áreas, da direção à produção executiva.

Caiu o Ministério ficará em cartaz até agosto, com sessões às segundas e terças às 21 horas e, de terça a sexta, às 17 horas. Os ingressos custam Cr$ 15 mil para o público em geral, Cr$ 10 mil para alunos das escolas particulares e Cr$ 5 mil para os das escolas públicas.

Ficha técnica:

Autor: França Júnior; Diretor: Celso Lemos; Cenários e adereços: Ricardo Ferreira e Olinto Mendes de Sá; Figurinos: Lola Tolentino; Iluminação e operação: Wagner Pinto; Direção musical: José Lourenço; Produção executiva: Brian Penido; Elenco: André Costa, Brian Penido, Celso Lemos, Cláudio Gaia, Denise Fraga, Denise Weinberg, Edson Fiesch, Ernani Moraes, Fernando Rebello, Henri Pagnoncelli, Jorge Bueno, Renato Icarahy, Susanna Kruger, Teresa Frota e Vera Holtz.