Nadja Bandeira e Milton Quadros na ópera-rock infantil.
Foto Goretti Moreira

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 12.12.1993

 

 

Barra

Magia e música no palco

O carinho de um ator pelo personagem pode ter o mesmo efeito de uma tempestade no deserto: areia nos olhos. A nova montagem de A Fada Mofada, um texto original de Dulce Bressane, é o resultado do esforço da agora diretora Maria Cristina Gatti em trazer de volta a fada que, em 1984, lhe rendeu sucesso de público e crítica, como atriz. Quase dez anos depois, o efeito mágico da varinha de condão da diretora não foi suficiente para repetir o encantamento. Está faltando alguém no palco.

Em seu segundo trabalho na direção – o primeiro foi o bem sucedido La Fontaine em Fábulas -, Maria Cristina Gatti esbarra em dificuldades, como a atualização do texto, perfeitamente contornáveis, pela contribuição de Milton Quadros, de verba e de elenco, essa última um pouco mais complicada.

Concebido como uma ópera-rock, o enredo conta à história de uma fada, que por causa do tédio em que vive na estratosfera, começa a mofar. Para acabar com o desconforto de sua monótona vidinha, ela escolhe aleatoriamente um lugarejo na Terra para exercer a sua magia. O local vem bem a calhar. Dirigida por um rei tirano, a aldeia vive problemas de toda ordem. A chegada da fada é um presente dos céus. Mas nem tudo dá certo: como são muitos os pedidos para atender, a fada resolve padronizar os desejos. Assim, o que é bom para um é para todos. Os versos do poeta já nascem impressos em livros, e os bolinhos da vovó já estão prontos no armário. Sem mais nada por querer, a aldeia murcha e começa a mofar. O que não acontece com o vilão da história. Por ser o único não contemplado com os efeitos da magia, o tirano monarca passa de Seu Rei para Seu Rui, um encantador jardineiro que, com paciência e sabedoria, restabelece a paz na cidade.

Se o enredo trata de magia, a produção deve ter se valido do mesmo elemento para colocar em cena, sem nenhum apoio, efeitos tão especiais. Os figurinos de Marcello Marques, usando materiais diversos, vestem o elenco dando a impressão de sedas e crepes. A capa do poeta é literalmente feita das páginas de um antigo exemplar de Shakespeare. Também de muito efeito, a luz de José Augusto Mello cria ambientações exatas. As músicas de Cláudio Savietto e Helinho Vidal, embora adequadas, não tem uma reprodução eficiente, o que prejudica a qualidade da trilha sonora.

Entretanto, se a produção realiza milagres, o elenco ainda está tentando acertar. Titubeantes, os atores perdem boas cenas e intenções, enfraquecendo os personagens e o conteúdo da história.

Mesmo com altos e baixos, A Fada Mofada é um espetáculo em processo de acertos, cortes e inserções, para que finalmente decole, como merecem o público e a equipe da montagem. Parece que isso é o teatro. O contrário é vento.

A Fada Mofada está em cartaz no Teatro Glauce Rocha, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 400.

Cotação: 1 estrela (Regular)