Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 18.07.1976

Barra

Não percam A Fabulosa História de Melão City 

Quando ao final do espetáculo, um ator afirma que a história acabou, mas a festa continua (e continua mesmo), ele apenas verbaliza – com a palavra festa – uma situação que vinha se desenvolvendo desde a descontraída construção do cenário. Os Contadores de Estórias mostram com A Fabulosa Estória de Melão City, uma esplêndida opção para os que desejam trabalhar na linha das festas populares. Melão City é apenas isso. E isso é tudo. (Vendo a maneira como as crianças participavam do espetáculo, cheguei a me perguntar se a forma mais completa de teatro infantil não seria ao ar livre. Se é que existe forma mais completa). A festa começa com uma deliciosa bandinha composta por sete músicos e que vai chamando a atenção do público. Ao mesmo tempo, atores com roupas coloridas e com muitos panos, tiras e chapéus vão passeando entre as crianças, estabelecendo aquele primeiro contato que será a base da progressiva estar a vontade do público infantil.

O cenário vai sendo construído e, quando começa verdadeiramente a história, o espetáculo (“festa popular”) já havia começado, efetivamente há, pelo menos, meia hora. Há, em toda a ação um tom de clown felliniano (no que tem de lírico e não de grotesco). E o texto, simples, objetivo, mas repleto de possibilidades, vai evoluindo com um trabalho exemplarmente firme do elenco; os atores, ao mesmo tempo em que sabem desenvolver o texto, sabem, também, transar com o público – característica essencial para esse tipo de trabalho. Não vale falar na trama porque perderia muito sua graça, principalmente na sua comicidade final. O que importa, basicamente, é que Os Contadores de Estórias dão um enorme passo em relação a peça apresentada no ano passado, no Museu de Arte Moderna (O Homem que Buscava a Sabedoria). A noção de “participação” evolui muito. As crianças, em Melão City não são levadas a afazer nada, numa participação dirigida e limitadora. Em Melão City, as crianças simplesmente participam – quando querem, como querem. Como numa festa.

Os belos e expressivos bonecos de Rachel Ribas, a direção musical de Marcelo Bernardes (é impossível imaginar tudo aquilo sem a música), o elenco formado por Vera Fróes, Ro Reyes, Paulino de Abreu, Zezé Polessa, Gilda e Rachel Ribas – tudo isso auxilia Marcos Caetano Ribas, coordenador geral do espetáculo e também um dos atores na obtenção de um resultado altamente positivo e que não deve deixar de ser visto. Está de parabéns o Departamento de Parques que resolveu investir em teatro, estabelecendo maiores opções para o lazer do carioca. E é bom que se diga que esse não é um benefício apenas para os sempre privilegiados moradores da Zona Sul. Melão City, tem sido levada em distantes praças da zona norte. Em todo esse conjunto de resultados positivos, apenas um senão facilmente reparável; a não divulgação prévia dos locais de espetáculos para a orientação do público.

A Fabulosa Estória de Melão City é um dos melhores espetáculos infantis da cidade, formando ao lado da melhor safra deste ano: A Verdadeira História da Gata BorralheiraEu Chovo Tu Choves, Ele ChoveA Inacreditável Aventura na Selva da Moça Maria (que volta em agosto), Palhaçadas e Andar Sem Parar de Transformar.