Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 15.07.1978

Barra

Uma boa expedição

Dentro das limitações do pequenino Teatro da Gávea (4º andar do Shopping Center) e dentro das limitações do texto de Ione Mattos, o diretor Nobel Medeiros conseguiu realizar com A Expedição ao Castelo do Príncipe Amigo um espetáculo simples, modesto, mas com bastante pique e que tem sua principal qualidade na comunicação que estabelece com o público infantil.

O texto de Ione Matos, um pouco nos moldes de A Viagem de um Barquinho, de Sylvia Orthoff, utiliza a “desculpa” da realização de uma expedição para propor, através de brincadeiras, cantos e danças, uma vida baseada mais nas interrogações e exclamações do que nas neutras reticências. Os personagens partem do principio de que a curiosidade é um bom motivo para se viajar pelo mundo (leia-se vida) e, a partir dai, vivem uma série de experiências. Na realização do espetáculo, a economia de atores me parece a falha principal (sem ter lido o texto não sei se a peça pede quatro atores para os dez personagens; não sei se a peça consegue justificar essa exigência; não sei se é o espetáculo que não clarifica este aspecto). Sinto uma quebra grande quando a expedição, inicialmente com quatro, vira uma expedição de três e até de dois, para que os atores possam fazer os personagens que vão aparecendo no decorrer da viagem. Quando a cena sai do realismo (aparecimento do Sol e da Lua) isso se justifica, mas nas demais, fica muito incoerente e a expedição se esvazia. A direção utilizando-se de transparências consegue momentos de boa força visual. Para  aumentar a comunicação do espetáculo existe a música gostosa (e bem cantada) de Maria Jacobina, e a atuação de Rita Viana: solta, engraçada, verdadeira, ela alcança seu melhor momento na cena do “Atirei o pau no gato”, um instante em que a comunicação do espetáculo é derivada, diretamente, da ligação estabelecida com o público pela interpretação da atriz. Luiz Carlos Cavalcanti e Ítalo Freitas atuam corretamente (o primeiro, um pouco “representado” demais) e apenas Marcos Lima, visivelmente inexperiente, não acompanha o pique dos outros.

Nesta encenação, a ressaltar a queda do espetáculo na cena do fantasma e a falta de unidade visual: que harmonia existe, por exemplo, entre a máscara do Burrinho e o chapéu do Bobo?

A Expedição ao Castelo do Príncipe Amigo é um espetáculo gostoso que, não sendo excepcional, é um bom programa para as crianças.