A Criada Patroa faz releitura de uma peça clássica

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.11.1994 

 

 

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Uma produção de alta qualidade

O núcleo permanente da Cia. Instável de Humor – Carmen Leonora, Eduardo Amir e Fábio Tubenchlak – vem caracterizando seu trabalho por releituras de clássicos. Juntos em 1992, foram responsáveis pela premiada montagem de Tartufo, um Molière para crianças, ambientado numa carroça-teatro, para o espaço aberto do Museu da República. No ano seguinte, Carmen Leonora assinava a concepção e direção de A Verdadeira História de Scrooge. Uma adaptação do conto de Charles Dickens, representada num carrossel cenográfico, na minúscula Sala 115, também no Museu da República.

Saindo do estilo marcante do espetáculo de câmara, A Criada Patroa, a nova produção da Cia., se instala no palco tradicional onde fatalmente perde seu caráter intimista, embora mantenha a qualidade de sempre.

Optando também por uma adaptação, mas desta vez de um texto não tão conhecido do público, Os Instáveis trazem ao palco sua versão de La Serva Padrona, original italiano do século XVIII de Giovanni Battista Pergolesi.

A história, que revela uma Mirandolina às avessas, embora de enredo previsível, e que por certo estaria melhor como um esquete dentro do espetáculo, ganha encenação cheia de preciosos detalhes.

Além dos cenários belíssimos, uma espécie de moldura em relevo que enquadra a encenação, a Cia. Instável de Humor enriquece a montagem com música ao vivo. Sob a regência de Nívia Queiroz, ocupando estrategicamente um dos cantos do palco, a orquestra de câmara, com figurinos de anjos, é um apoio imprescindível à pequena ópera que se apresenta.

No palco preenchendo as lacunas do texto, Carmen Leonora e Eduardo Amir se esforçam em tirar humor de situações facilmente adivinháveis pela plateia. Mesmo as interferências de canto não chegam a ser realizadas com naturalidade. Fábio Tubenchlak, porém interpreta o criado mudo com interessante construção de personagem. Usando recursos de clowns do cinema mudo, como Harpo Marx, o ator consegue completa empatia com a plateia.

Apesar dos entraves com a trama escolhida, a Cia. Instável de Humor apresenta como das outras vezes uma produção de alta qualidade, onde os cuidados com os elementos cênicos, entre eles os figurinos de Ney Madeira, revelam–se impecáveis. Depois da estreia precipitada, o espetáculo deve afinar o tom e decolar.

Cotação: 2 estrelas (Bom)