Com A Coruja Sofia, Maria Clara Machado volta a prender a atenção da plateia.
Foto Eugênio Reis


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 24.09.1994

 

 

Barra

Um convite à reflexão 

Vigésimo-quarto texto de Maria Clara Machado, A Coruja Sofia é considerado pela autora o início de uma nova fase. Dividindo sua obra em dois estilos distintos, o social e o poético, Clara define o novo texto como filosófico. Sem perder o íntimo diálogo com o público infantil, a autora, na nova peça, toma como alvo de suas críticas elementos essencialmente urbanos, como a exploração do talento alheio e a idiotização provocada pela TV. Sem o ritmo aventuresco de O Diamante do Grão-Mongol ou a trama envolvente de Pluft, o FantasminhaA Coruja Sofia cumpre plenamente a proposta de ser um convite à reflexão. Dessa maneira, muitas histórias diferentes podem ser contadas, ao final do espetáculo, pela plateia de uma mesma sessão.

Cacá Mourthé é generosa em sua direção, procurando contemplar uma ampla faixa do público. Para crianças menores, a festa acontece numa bem-arquitetada floresta, com todos os sons dos animais feitos a perfeição. As brincadeiras bem-humoradas com os ruídos dos bichos e sua semelhança com a voz humana são um achado. Já os jovens espectadores têm sua atenção voltada para o excelente coro. Com performance irrepreensível, os atores do coro exibem sua vitalidade em cena de maneira explícita. Sem medo de errar, acertam em cheio.

De bastante impacto, a coreografia de Renato Vieira é sem dúvida nenhuma a grande força do espetáculo. Sem desperdiçar nenhum gesto ou intenção, o coreógrafo cria surpreendentes movimentos, deixando sua marca de quase coautoria para texto e direção. Também de qualidade indiscutível, a trilha musical de Paulo Jobim acompanha o espectador até em casa, além de provar sua eficiência no palco.

Os cenários de Lídia Kosovski destacam-se nos detalhes, no uso dos elementos mais simples. Como a grade de cordas que surge do teto, e uma inesperada e verdadeira chuva em cena. A iluminação de Jorginho de Carvalho auxilia os efeitos.

Muito mais do que uma peça, A Coruja Sofia é um evento, que se repete no Tablado a cada vez que Maria Clara Machado está por perto. A plateia, lotada de ex-alunos e espectadores cativos, faz a festa na Gávea.

A Coruja Sofia está em cartaz no Teatro Tablado, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a R$ 5.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)