Achado cênico: os Barões da Floresta

Crítica publicada no Jornal do Brasil / Revista de Domingo
Por Lucia Rito – Rio de Janeiro – 08.12.1985

 

 

 

 

Política Infantil

Uma peça infantil falando de Constituinte, formação de partidos, criticando a corrupção e as artimanhas do capitalismo selvagem? Os pais entram desconfiados no teatro, achando que seus filhos não vão entender a metade. Por isso, quando as crianças saem do Teatro Vanucci discutindo animadamente a renúncia do Presidente Cavalo Manhoso, a necessidade de mudanças radicais na floresta e a formação de uma assembléia constituinte, a sensação de alívio é imediata. Enfim, uma peça que fala de política com leveza e graça!

A julgar pela reação da platéia A Constituinte na Floresta, o primeiro texto infantil do jornalista, professor e ex-Secretário de Educação do Estado, Arnaldo Niskier, cumpre sua missão: com muita música, dança, roupas coloridas e alguns excelentes achado cênicos, leva as crianças a perceberem que a única maneira de mudar as coisas quando o governo vai mal é protestar contra ele e exigir a renovação. O texto é simples: a bicharada resolve protestar contra um governo corrupto, consegue derrubá-lo e votar uma nova assembléia constituinte.

As alusões a políticos do antigo governo, como o ex-Ministro Porcão Neto, que aparece como um porco malandro no palco, as piadas sobre o dinheiro da floresta aplicado no “opa” e as mordomias, provocam mais risos dos pais do que das crianças, mas as que têm de nove anos para cima deixam o teatro com o enredo e as lições da peça na ponta da língua. Foi o caso de Andrei Caron, 11 anos, morador de Jacarepaguá. Filho de um aviador, ele não ficou com nenhuma dúvida: “É uma peça de crítica política e mostra que a solução para um mau governo é a renovação”. Karla Cristina Rocha, também de 11 anos, vibrou “com os bichos formando novos partidos” e fez questão de votar no cachorro Guima como o bicho mais popular, num dos computadores colocados pela produção na saída do teatro à disposição das crianças. Enquanto Patrícia de Sá Antunes, 10 anos, estudante do colégio de aplicação da UERJ, aprendeu o que significa uma coisa que tem ouvido falar na TV e nas conversas dos pais em casa: “Constituinte é uma reunião que todas as pessoas fazem para votar novas leis para o lugar onde vivem.” Ela também achou muita graça nos partidos criados na Nova Floresta. Entre outros, o PT (Partido do Tatuí), o mais votado no último final de semana na eleição dos computadores: o PCB (Partido Comunista da Bicharada) e o PMDB (Partido da Mata Democrática dos Bichos). “É tudo muito parecido com o que a gente vê na TV.”