A palhaçaria genuinamente nacional da Condessa e o Bandoleiro

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 01.11.2016

Barra 

Barracão Cultural faz 15 anos com mostra gratuita de infantis

Companhia paulistana reapresenta quatro de seus espetáculos para crianças, durante o mês de outubro, no Teatro Cacilda Becker

O ano de 2016 é muito especial para a talentosa turminha da Cia. Barracão Cultural, de São Paulo. O grupo está completando 15 anos de história. Para marcar a importante data, organizaram uma mostra com espetáculos adultos, infantis e workshops gratuitos. Os infantis são todos ‘nota dez’: quatro pérolas do repertório. São eles: A Condessa e o Bandoleiro, O Tribunal de Salomão e o Julgamento das Meias Verdades Inteiras, Já pra Cama e Cacoete.

“Eva Furnari nunca tinha autorizado uma adaptação profissional de seu livro Cacoete, então realizar essa dramaturgia foi um desafio enorme”, conta Eloisa Elena. O espetáculo estreou em 2009.  Já A Condessa e o Bandoleiro, de 2014, indicada para adolescentes, ganhou nada mais nada menos do que o 1º Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem na categoria Melhor Espetáculo Jovem.

Leiam a seguir trechos de minhas críticas a esses quatro espetáculos, publicadas por ocasião de suas temporadas originais:

O Tribunal de Salomão

O espetáculo, com dramaturgia de Paulo Rogério Lopes, um autor já experiente com o público infanto-juvenil, tem um importante subtítulo: O Julgamento das Meias Verdades Inteiras. Apesar do tom de farsa popular, de commedia dell’arte, de circo-teatro, o tema é bem sisudo – mas inteligentemente tratado de forma divertida e leve. Quais os limites de uma verdade? Quantas versões admitem-se para um mesmo fato? Como não ultrapassar a linha da realidade e cair no reino da fantasia? Por que os valores ficaram tão elásticos no mundo de hoje? São questões relacionadas à conduta ética do ser humano – e por isso é louvável que o espetáculo mergulhe assim de cabeça nessa temática, ainda mais por ser voltado para um público mais popular, que frequenta praças e outros espaços públicos de lazer. É claro que, porque não se trata de uma aula solene, mas de uma peça de teatro de rua, esses temas e preocupações aparecem embrulhados numa embalagem hilariante, com muito humor, e sobretudo com muita música (a cargo de Dr. Morris, de reconhecido talento em nossos palcos).

Já pra Cama

Tudo é acerto: texto, direção, trilha, elenco, iluminação, cenografia, figurinos. A história da mãe que luta todo dia para conseguir colocar seus dois filhos para dormir é incrível, muito bem desenvolvida, graciosamente envolvente, com um potencial de identificação com o público que é inegável. O argumento é de Eloisa Elena e Dr.Morris, casal na vida real, com roteiro de Eloisa Elena. Ela também está no palco no papel da mãe e em um de seus melhores momentos como atriz. Esbanja carisma, canta como nunca, emociona e diverte. É lindo quando a mãe percebe que viver uma noite de aventuras com os dois meninos será enriquecedor também para ela, adulta, e bastante frutífero como forma de estimular a imaginação dos garotos. Fernando Escrich, outro nome fortemente ligado à música no teatro, assina mais uma primorosa direção, com timing preciso, rigor nos detalhes, mão firme em todos os quesitos.

A Condessa e o Bandoleiro

O espetáculo mais uma vez acerta em tudo. Com boa dramaturgia de Ângelo Brandini, a inspiração veio do conto Divertimento Forçado, do húngaro Jókái Mor. A adaptação foi hábil em trazer a trama para o universo brasileiro de danças e canções populares regionais, bem como dos números típicos da palhaçaria genuinamente nacional. Uma condessa mimada (a sempre ótima Eloísa Elena) cisma de ir a um baile em uma localidade afastada e distante e, para tal, sai em viagem a cavalo com sua ama de companhia (Fábio Ferretti, em divertida composição) e um barão apaixonado por ela (Victor Merseguel). No caminho, vão parar no esconderijo de ladrões e a condessa acaba dançando a noite toda com um perigoso bandoleiro (Thiago Andreuccetti, também em momento inspirado). Curto, dinâmico, divertido, alegre, vistoso, capaz de atrair todas as faixas de idade. Não perca.

Cacoete

Numa cidade em que tudo é perfeito, organizado e previsível, só maçã pode ser presente para o Dia dos Professores. Mas, naquele ano, um menino resolver mudar esse hábito e… confusão geral: uma bruxa entra na parada! Cacoete, peça baseada no livro de Eva Furnari, tem adaptação da atriz Eloisa Elena é uma boa pedida para toda a família. Fique de olho nos encantadores adereços e cenários de Sidnei Caria.

Serviço

Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295, Lapa. Zona Oeste, São Paulo
Tel.: 11 3864-4513.
Grátis para todas as sessões

A Condessa e o Bandoleiro

Dia 8 de outubro (sábado), às 16h (encenação ao ar livre; se chover, não haverá espetáculo)

O Tribunal de Salomão e o Julgamento das Meias Verdades Inteiras

Dia 15 de outubro (sábado), às 16h (encenação ao ar livre; se chover, não haverá espetáculo)

Já pra Cama

Dias 22 e 23 de outubro (sábado e domingo), às 16h no Teatro