La Fontaine gaha nova versão
Foto Mauro Pinheiro Jr.

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.06.1993

 

 

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Velha fábula sem heróis nem vilões

Quase tão complicada quanto a origem da vida é a origem da fábula. Nascida no Oriente é reinventada pelo grego Esopo no século 6.a.C e aperfeiçoada séculos mais tarde pelo escravo romano Fedro. No século 16 é redescoberta por Leonardo Da Vinci, para finalmente no século 17 ser remodelada por La Fontaine, incluindo-se definitivamente, na literatura ocidental.

A Cigarra Cínara e a Formiga Ida – Parentes Afastadas de La Fontaine, em temporada no Teatro II do Centro Cultural do Banco do Brasil, mesmo que já no título tenha a explicação de que os personagens são parentes afastadas de La Fontaine, traz à cena o autor original como personagem para que seja testemunha do equívoco cometido. A nova versão de Ewerton de Castro procura desmistificar a ideia de que o artista não trabalha, mostrando todas as etapas que ele tem que percorrer até chegar ao palco.

Sem recorrer a nenhum maniqueísmo, que mostre uma ótima cigarra e uma péssima formiga. No elenco, Silvia Massari, como a pop star Cínara, e Claudia Netto, como a formiga Ida, compõem seus personagens em caminhos opostos. A primeira apostando no seu potencial vocal e a segunda numa bem dosada mistura de característicos clowns. Sua empatia com a plateia é instantânea. Ao ator Lício Bruno cabe interpretar, corretamente, o Sr. De La Fontaine às voltas com as suas criaturas.

Ewerton de Castro, que além do autor texto é responsável pela direção e cenografia, concebe um espetáculo em tom operístico. Por um lado, obtém grandes efeitos cênicos, como, por exemplo, à música ao vivo tocada por um trio usando vestimentas de época. Por outro, acaba por alongar demais as cenas de repetição da história: do como é e do como deveria ser.

No mais, os figurinos de João Gomes revelam todo o talento do artista quando retrata outras épocas, ficando apenas levemente comprometidos os trajes que mostram o tempo atual. Também desigual se apresenta a música de Adelino Neto, com bons momentos para acompanhar a cão, mas de temática primária para os números solos.

Cotação: 2 estrelas (Bom)