Matéria publicada na Revista de Teatro SBAT
Por Lena Cerqueira –  Rio de Janeiro –  Jul/Ago 2002



CBTIJ – 7 Anos de Luta pelo Teatro Infantil

O CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude está completando sete anos de existência. Criada com o objetivo de difundir a arte para crianças e adolescentes, a instituição, sem fins lucrativos, visa também a fomentar uma política de incentivo ao teatro, chamando a at – nção dos governos municipais, estaduais e federal e da sociedade para sua valorização. “Considero o CBTIJ a entidade mais bem organizada do Rio”, avalia o presidente Antonio Carlos Bernardes, que participa do empreendimento desde sua concepção, em dezembro de 1995.

Há mais de meio século, tendo como base O Casaco Encantado, de Lúcia Benedetti, nascia no Brasil o primeiro espetáculo produzido e dirigido ao público infantil. Desde então, muitos foram os caminhos para se chegar até a organização, que conta hoje com 160 sócios. Nos anos 90, criou-se o MOTIN (Movimento de Teatro para a Infância e Juventude), que deu suporte para a melhoria da qualidade do teatro infantil e das condições de trabalho de profissionais, e da APTIJ (Associação Paulista de Teatro para a Infância e Juventude). O CBTIJ foi concebido durante seminário, realizado no Rio, em que técnicos e atores perceberam a necessidade de se criar uma entidade que defendesse um trabalho teatral dedicado essencialmente às crianças.

Vários artistas, entre eles, Alice Koenow, Silvia Aderne e Ricardo Brito se uniram para elaborar o estatuto e demais burocracias e, mais tarde, o CBTIJ se associou à Assitej (Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude), órgão que difunde os mesmos princípios e congrega mais de 65 países. A partir daí, iniciou-se uma tarefa de formiguinha, como traduz Bernardes. Sem sede para se reunir, os sócios fundadores precisavam de um meio eficaz de estabelecer contato com os demais associados e pessoas que se interessam pelo assunto. Elaboraram, então, o site e armazenaram todas as informações disponíveis. Aos poucos, foi mudando sua característica factual e se transformou numa rica fonte de dados, como preservação de memória e pesquisa.

Quem acessa www.cbtij.org.br, encontra, além das apresentações e objetivos, os projetos realizados e a história do teatro infantil, registrada na imprensa em 1998, quando este completou 50 anos no Brasil. Há, também, 37 textos de autores, como Ana Maria Machado, Maria Helena Khuner, Valmor Beltrame, entre outros, contando suas conquistas na carreira. “Muitas premiações não constam nos arquivos dos órgãos que os concederam, por isso, estamos levantando dados para alimentar o site”, diz Antonio Carlos Bernardes.

Os encontros dos sócios, porém, continuaram acontecendo nas suas casas e em teatros. “Minha casa serviu de escritório por muito tempo”, conta o diretor, ator e produtor teatral. Há dois anos, a Funarte concedeu ao CBTIJ um amplo espaço, na sobreloja da Rua do Catete 338 (mesmo prédio que abriga o Teatro Cacilda Becker). Depois de séria reforma, com a troca de toda a fonte hidráulica e elétrica, finalmente a entidade se instalou. São duas salas de ensaio – daqui a pouco, estarão abertas à realização de cursos, que serão ministrados por professores de primeiro e segundo graus, previamente reciclados – e outras que abrigam a recepção, a administração e arquivos e depósito, com materiais de figurinos e adereços. “Nossa meta principal é abrir campo de trabalho a profissionais que atuam junto às crianças, para que o teatro infantil deixe de ser apenas um simples passatempo e se torne instrumento em que elas possam aprender mais”, enfatiza Bernardes.

Realizações

Desde 1988, quando apresentou o evento “50 anos de teatro para a infância e juventude no Brasil”, o CBTIJ foi palco de uma série de acontecimentos. Em março de 2001, comemorou a primeira edição do Dia Mundial do Teatro para a Infância e Juventude, instituído pela Assitej. O cartaz, elaborado por Ziraldo, marcou também a última homenagem a Maria Clara Machado, ainda viva, um dos principais ícones do teatro infanto-juvenil, e a outras personalidades teatrais, entre elas, Tatiana Belinky e Fátima Hortiz.

No mesmo ano, foram realizadas a mesa-redonda “Ações para a criança/adolescente através do teatro” e a primeira “Mostra SESC-CBTIJ de teatro para crianças”, composta de doze espetáculos, que marcou a parceria com o SESC (Serviço Social do Comércio) do Rio de Janeiro, hoje permanente em sua agenda cultural.

As apresentações, feitas em onze unidades do SESC, na capital – Madureira, Ramos e Tijuca – e no interior: Três Rios, Campos, Barra Mansa, Teresópolis, Nova Friburgo, São João de Meriti, São Gonçalo e Niterói, foram assistidas por 50 mil pessoas. Na Tijuca, os grupos permaneceram em temporada durante um mês; nas demais localidades, em domingos alternativos.

Este ano, durante a segunda mostra, que teve início em março e vai até novembro, estão programados dezoito espetáculos, num total de 200 apresentações e cumprem o mesmo esquema e locais da mostra anterior. “Esperamos atingir um público em torno de 70 mil pessoas”, aguarda Antonio Carlos Bernardes. Nesta edição, foi inserida uma novidade: a criança, entre 4 e 12 anos, que assistir à metade das peças e colecionar o cartão-postal ganhará, no fim do ano, uma camiseta da mostra. Isso, segundo o presidente, faz com que elas se motivem a participar cada vez mais dos eventos e reconheçam, neste segundo ano, os grupos que estiveram no primeiro, além de levar os amigos ao teatro. Em março, o “Seminário internacional de teatro para a infância e a juventude” reuniu cerca de 22 países representantes da Assitej. Esse acontecimento teve grande repercussão no exterior, tanto que na recente eleição do órgão, a indicada do CBTIJ, Luiza Monteiro, foi eleita vice-presidente. Para novembro, está agendado um seminário nacional, no qual representantes de todo o Brasil e organizações ligadas à área comporão mesas-redondas, a fim de discutir sobre teatro infanto-juvenil e os problemas das crianças.

Projetos Futuros

Com todas essas realizações, planos futuros estão recheando a agenda do CBTIJ. Começa pela briga com os órgãos governamentais para a valorização do teatro infantil que, na opinião de Antônio Bernardes, ainda sofre discriminações. Ele considera que 50% dos prêmios estipulados pelo governo para montagem de peças teatrais sejam destinados ao teatro infantil. “Essa prática consta do estatuto da criança e do adolescente. A todo governo que assume, temos a tarefa de informar sobre os direitos e deveres da criança”, defende.

O site deverá contar com um banco de dados mais completo, para que as pessoas da área teatral e outras interessadas possam encontrar informações gerais sobre o teatro e artistas. Já em setembro, deverão estar inseridos todos os cartazes e programações de Silvia Orthof, que comemoraria 70 anos, e os premiados da Apetesp. A intenção é colocar, até o próximo ano, 50 nomes com dados completos.

O CBTIJ em Ação visa ao trabalho direto na área social, ou seja, em espaços em que a organização possa atuar com crianças de comunidades carentes, tirando-as das ruas e fornecendo-lhes cursos, não apenas na parte técnica, mas também de cidadania, Português e História. Para isso, estão sendo procurados patrocínios. Outra meta do CBTIJ é criar o Boletim, destinado à classe artística e a professores de primeiro e segundo graus, com informações sobre cursos e espetáculos para serem apresentados em escolas.

Prestes a encerrar seu mandato – a próxima eleição para a nova diretoria será em outubro -, a direção está criando também o Circuito CBTIJ, em 24 cidades do interior. O objetivo é levar a entidade para o ensino de primeiro grau, em que 70% dos espectadores sejam crianças da escola e 30% da comunidade. Antônio Carlos considera uma das metas mais prementes a criação de núcleos do CBTIJ em outros estados, visando fortalecer o organismo em esfera nacional, para que cada localidade tenha um grupo de pessoas que batalhem pela política de incentivo ao teatro para crianças e adolescentes. O primeiro núcleo será inaugurado em Santa Catarina, ainda neste semestre.

Dia 4 de setembro, será votado o novo estatuto, que coloca o CBTIJ de acordo com a OCIP (Organização Civil de Interesse Público), que vai substituir a atual ONG – Organização Não Governamental. Com isso, o CBTIJ, que sobrevive da contribuição e anuidade dos associados e de caixa dos projetos realizados, poderá reivindicar verba federal para a manutenção da entidade, acredita Antonio Carlos Bernardes.