Um dos destaques é o pavão, que mistura sábios pensamentos com asneiras monumentais


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 10.06.1995

 

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Magia com um toque de humor

Em cena há 18 anos, o Grupo Hombu tem como marca registrada o tratamento artesanal cuidadoso com que concebe seus espetáculos. Responsável, até agora, por todas as etapas que envolvem suas produções – nelas incluídas, além da direção, música e iluminação, a confecção caprichada de figurinos e adereços cenográficos, verdadeiras caixinhas mágicas que se transformam nos mais diferentes objetos, o Hombu vem cultivando, ao longo destes anos, um padrão estético inconfundível.

A Casa da Madrinha, com texto de Lygia Bojunga, adaptado para o palco por Eloy Araújo, pode causar algum espanto ao público cativo do grupo. Dirigido por Luís Carlos Ripper, que também assina cenários e figurinos, o espetáculo ganhou do diretor um irresistível toque de bussiness. Sem interferir no tempo tão característico do grupo, Ripper imprime delicadamente seu próprio ritmo a encenação. O resultado é surpreendente. No palco, a história do menino Alexandre, que cansado da dura vida em família, resolve ir em busca da casa da madrinha – um lugar que só existe na imaginação de seu irmão mais velho e que pelo caminho encontra um pavão com uma torneirinha instalada na cabeça que conjuga sábios pensamentos com asneiras monumentais, é mostrada em cenas de humos cortante, que evidenciam o ridículo das relações autoritárias e o desconforto que causam os que ousam sair da linha.

Vivendo criaturas tão ricas em nuances, o Hombu está em cena na sua melhor forma. Além dos personagens de apoio, com interferências precisas não só interpretação, mas tocando e cantando ao vivo a sempre brilhante trilha musical de Beto Coimbra e Ronaldo Mota, destacam-se Alexandre David, como menino Alexandre, Leninha Pires, em todos os seus personagens, e principalmente Silvia Aderne, interpretando o pavão com invejável vigor. Com muitas novidades em cena, mesmo que algumas destoem da qualidade-padrão de acabamento como, por exemplo, os figurinos e alguns adereços, A Casa da Madrinha é um espetáculo de achados, que prende a atenção da plateia do inicio ao fim.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)