Os Atores de Laura em cena de A Casa Bem-Assombrada, seu primeiro espetáculo para público infantil


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 01.02.1998

 

 

Barra

Na cola do cinema, peça lota teatro

A Companhia dos Atores de Laura é um desses raros grupos que mesmo com pouquíssimo tempo de estrada já tem um trabalho bastante autoral. Formado a partir de um curso de interpretação na Casa de Cultura Laura Alvim, teatro que ocupa com a atual montagem: A Casa Bem-Assombrada. O grupo tem como mentores seus ex-professores Susanna Kruger e Daniel Herz, responsáveis diretos não só pela inventiva linguagem cênica que marca os espetáculos dos Atores de Laura, mas certamente, também, pela harmônica convivência do grupo.

Também dessa vez à frente da nova montagem, Susanna escreve o texto do espetáculo que dirige com Daniel. Mas ao contrário das outras encenações – Cartão de Embarque, Romeu e Isolda – dirigidas à jovens plateias, esse é o primeiro espetáculo dedicado ao público infantil. O novo caminho a ser trilhado, como em qualquer investida, tem alguns acidentes no percurso.

Apaixonada pelo teatro Susanna Kruger, se dedica em seu texto a desvendar para o público comum, entre outras coisas, todo o aparato técnico de uma casa de espetáculos. Assim estão em cena a bambulina, que conversa com o regulador e as tapadeiras. Se para o público mais velho fica difícil identificar tais personagens, para a plateia mais nova é praticamente impossível, já que a definição de tais personagens só chega quase ao final do espetáculo.

Mas isso não é o mais importante. Na verdade, a trama da peça envolve outras relações com o teatro e com a vida, pois trata do abandono. Mesmo usando um certo tom metafórico, a mensagem é entendida. Ambientada num teatro abandonado, visitado por um grupo de crianças, os personagens, cortina, urna, refletor, entre outros, ganham vida, inclusive o monstro do abandono que é vencido em sua fúria por beijinhos. Uma ótima estratégia para vencer qualquer monstro. Mais do que isso, está em cena uma justa homenagem a Aurélio de Simoni, o iluminador da companhia, que chega ao palco na figura de um velhinho que está sempre emendando fios e ligando tomadas. Um slogan do artista, que de velhinho não tem nada; mas que adora o tipo criado por ele mesmo. Um charme.

Atuando na contramão do teatro comercial, a própria companhia se responsabilizou, até o penúltimo espetáculo, por toda a parte técnica, dessa vez chega ao palco com novos parceiros, como Lídia Kosovski e Ney Madeira, que assinam cenários e figurinos. A mudança se reflete no palco. Acostumados a ocupar o palco num espaço quase nu, com figurinos de poucos adereços, a companhia ainda está pouco à vontade com o novo aparato técnico. Falando assim, pode parecer que o trabalho de Lídia e Ney não esteja a altura do espetáculo. Ao contrário, os dois, excelentes profissionais, marcam mais um tento em suas carreiras realizando um trabalho de ótima qualidade. A convivência com o novo se resolverá com o tempo.

Com a prática do acertar fazendo, Daniel Herz e Susanna Kruger por certo voltarão ao palco para rever detalhes. Essa é a vantagem de atuar numa companhia como a dos Atores de Laura, sempre tão disposta a acertar em seus espetáculos. A Casa Bem-Assombrada tem essa marca.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)