Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 19.09.2014

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Para que servem as bibliotecas no mundo de hoje?

Em A Caixa Encantada, Paideia mostra o quanto escolas empilham livros velhos sem conseguir integrá-los ao cotidiano dos alunos

Fundada em 1997 por Amauri Falsetti e Aglaia Pusch, a companhia Paideia destaca-se ano a ano com um lindo trabalho de difusão do teatro para jovens, realizando peças cada vez mais completas e necessárias em seu mágico espaço no bairro de Santo Amaro e ocupando um antigo pátio de coletores de lixo. A novidade deste segundo semestre de 2014 é A Caixa Encantada, espetáculo que valoriza o prazer de ler.

O grupo é corajoso. Na era das redes sociais, ipads e aplicativos, a Paideia decide-se por um espetáculo que, de certa forma, é retrô, porque ainda considera a existência de objetos chamados livros. Mais do que isso: faz uma crítica fortíssima às atuais instituições de ensino, que mantém bibliotecas inoperantes, espaços que viraram verdadeiros cantinhos sinistros, mofados e desocupados dentro da estrutura escolar. Pior ainda, com funcionários públicos (bibliotecários) que não têm mais estímulo para trabalhar e não conseguem mais envolver/cativar para os livros a clientela escolar.

Esse ‘dedo na ferida’ de educadores e dirigentes de escolas é muito importante. O esperto enredo da peça fala, ainda, do modismo dos chamados “cantinhos de leitura”, espaços lúdicos dentro do ambiente escolar, mas que muitas vezes também não cumprem sua função de forma satisfatória, sem conseguir atrair o interesse de novos leitores.

Uma menina que não queria ir à escola vai parar dentro de uma biblioteca abandonada. Cada livro que ela abre descortina um mundo fantasioso e rico de personagens, que saltam de dentro das páginas e ganham vida, como se fossem fantasmas caminhando entre as prateleiras. Escrita e dirigida por Amauri Falsetti, A Caixa Encantada tem música ao vivo, executada por Marcos Iki (o diretor musical) e Camila Amorim. No elenco, os atores Ana Luiza Junqueira, Carolina Chmielewski, Rogério Modesto, Suzana Azevedo e Valdênio José conseguem dar seu recado de forma envolvente, com muita garra e talento, amparados mais uma vez pela segurança de figurinos bem cuidados e de uma cenografia criativa, ambos a cargo de Telumi Helen.

Há seis anos, a companhia Paideia mantém uma parceria com Stefan Fischer-Fels e o GRIPS Theater de Berlim, um dos pioneiros do teatro para jovens e crianças. Foram resultados desta parceria a montagem dos espetáculos Baltus, o Pequeno Herói (2011), de Lutz Hübner (montado por ambos os grupos); Ycatu – Água Boa (2013), de Amauri Falseti (montado pela Cia. Paidéia); e Sede, uma viagem de aventura (2013), de Thomas Ahrens (montado pelo GRIPS Theater). Além disso, a Paideia promove anualmente o seu Festival Internacional Paidéia de Teatro para a Infância e Juventude, cuja oitava edição se realiza este mês, de 26 a 29.

Serviço

Paideia Associação Cultural
Rua Darwin, 153 – Santo Amaro (Ao lado do Boa Vista Shopping), São Paulo
Tel.  (11) 5522-1283
Quintas, 10h30. Sábados e domingos, 17h
Ingressos: R$20 e R$10 (meia)
Até 19 de outubro