A agitada versão musical da peça de Maria Clara Machado está se tornando em fenômeno de bilheteria entre os espetáculos dedicados às crianças.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.01.1994

 

 

Barra

“Clássico” em versão musical

Depois de 16 anos dedicados ao grupo Civelu, com trabalhos teatrais dirigidos a crianças em festas de aniversário, Lupe Gigliotti realiza sua segunda montagem para um palco tradicional. A Bruxinha que era Boa, em cartaz no Teatro Barrashopping, mesmo não alcançando a harmonia cênica deA Volta de Chico Mau, que continua temporada no mesmo teatro, esta se tornando o fenômeno de pública da atual temporada.

O texto escrito por Maria Clara Machado em 1958 – que teve em seu primeiro elenco Ian Michalski como o bruxo-chefe e Bárbara Heliodora como a bruxa instrutora – conta à história da bruxinha Ângela, um outsider que, mesmo sonhando em ganhar a vassourinha a jato, no final do curso, é incapaz de praticar uma só maldade. Presa na torre de piche, a bruxinha é libertada por Pedrinho, filho do lenhador que havia sido salvo por ela do incêndio de sua casa, provocado pelas alunas da escolinha da bruxa instrutora.

A direção de Lupe Gigliotti, em parceria com Cininha de Paula, transforma o texto, já clássico, num agitado musical de 17 coreografias, embaladas por uma trilha sonora que vai do rap a valsa. A estratégia de fixar rígidas marcações para os atores contorna suas deficiências e se revela benéfica para o espetáculo.

A coreografia de Rosane Maia é extremamente criativa. Levando-se em conta o minúsculo palco do teatro e os não-bailarinos do elenco, o que se vê em cena é um milagre. Bastante adequada a proposta do espetáculo, a trilha sonora escolhida pelas diretoras mistura sucessos antigos da música popular com músicas inéditas de Tim Rescala e Marcelo Saback.

Prejudicados pela rotatividade de ocupação do teatro (no domingo são apresentados quatro espetáculos diferentes), os cenários de Kalma Murtinho apenas enfeitam o palco, ficando todas as mudanças de situações a cargo da competente iluminação de Paulo César Medeiros. Já os figurinos, também de Kalma Murtinho, são divertidos e funcionais.

O elenco – com exceção de Rodolfo Monteiro, que faz a bruxa instrutora, num papel feminino sem apelos caricaturais, e de Cláudia Rodrigues, a engraçada bruxa Fedelha – não apresenta grandes surpresas de interpretação. Entretanto, o exagero no tique das drags Marcelo Marraket e André Luiz, como as bruxas Caolha e Fredegunda, respectivamente, podem acabar comprometendo a leveza da encenação.

A encenação de A Bruxinha que era Boa mostra uma versão light do texto de Maria Clara Machado que pode causar espanto aos ardorosos fãs do Tablado. Mas, a julgar pela receptividade do público, que lota os 400 lugares do teatro, a nova montagem agradou em cheio.

A versão musical de A Bruxinha que era Boa está em cartaz no Teatro Barrashopping, aos sábados e domingos, às 17h30. Ingressos a CR$1.000, com desconto de 50% para quem levar o canhoto do tíquete de A Volta de Chico Mau. Cotação:

2 estrelas (Bom)