Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 07.04.1975

Barra

A bruxinha não é boa

A Bruxinha que Era Boa peca, principalmente, pelo trabalho do diretor, Jayr Pinheiro. Excetuando-se a apresentação da peça, onde existe um clima de envolvimento com som e luzes e onde há uma certa criatividade, o resto do espetáculo corre de modo facilmente adivinhável, pois segue todos os conhecidíssimos e surrados caminhos do lugar-comum. A montagem não cria clima, o ritmo é capenga e a peça de Maria Clara Machado não é explorada em suas potencialidades (o texto nem pode sofrer uma análise, tão assassinado que é pela encenação). Não há interesse, não há plasticidade, não há poesia. Mas há erros primários, como o playback do menino tocando flauta e a tentativa de participação (De repente, um ator grita para a plateia, sem a mínima razão, aliás: Viva a Bruxinha que era boa! Ora, a bruxinha está ali no palco, viva, e, nesta hora, então, mais viva que nunca. Por que era boa?)

A linha de interpretação que o diretor dá ao elenco (se é que dá; a impressão é que cada um faz o que bem entende) é firmemente calcada na caricatura. Os atores apresentam uma certa harmonia; têm segurança do que fazem; estão soltos. Mas seus gestos, suas inflexões, seu comportamento cênico, não conseguem sair do chavão. Acima da média destaca-se o trabalho de Lea Patro (a caolha); uma voz bem modulada, com maliciosas inflexões; um rosto expressivo; e um corpo se movimentando com certo sopro de excessividade. Ela, em alguns momentos, é vencida pela inexperiência, mas, de modo geral é uma atriz que traz uma contribuição pessoal ao espetáculo. Vivien Rocha, Vera Goulart, Ubirajara Fidalgo, Aline Veiga e Florizete Santos parecem ter qualidades, mas estão tomando uma direção errada: a do caminho mais fácil, sem pesquisa, sem a preocupação de transformar a criação de um papel numa coisa pessoal, numa atuação com personalidade própria. A não ser em casos propositais, o ator não deve procurar representar o geral (como as bruxas – de modo genérico – se comportam) e, sim, buscar o específico: como se comporta a minha bruxa, que é particular, individual, têm características próprias etc. etc. Vivien Rocha (Ângela) demonstra uma boa comunicabilidade, mas sua fala monocórdia, sempre choramingando, irrita um pouco. Vera Goulart (Bruxa-instrutora), numa atuação preguiçosa, só faz repetir o a bruxa que fez em Joãozinho e Maria: a atriz poderia sair de uma peça e entrar na outra que seu trabalho não mostraria a mínima diferença. Elicio Moreira é o ponto mais fraco do elenco. Nesta peça, seus recursos aparecem extremamente limitados, não há comunicabilidade, ele não é expressivo e seu texto não convence.

Os figurinos e adereços, apesar de não apresentarem novidades, são cuidados, coloridos, funcionam bem. Já o cenário é pobre, inexpressivo e a torre de piche é de extremo mau gosto. Se não há dinheiro para gastar e se o grupo tem que fazer um teatro pobre, que pelo menos sejam usadas a imaginação e a criatividade. Sem dinheiro e sem imaginação, peça alguma vai para a frente. Essa economia (mais de imaginação que de dinheiro) fica visível na música para adormecer o bruxo: será tão difícil assim conseguir um disco de flauta que não esteja completamente arranhado? É necessário um mínimo de respeito para com o público.

É bom lembrar que o preço é de 15 cruzeiros e que criança alguma vai ao teatro sozinha (os pais também pagam). Os produtores devem pensar sempre nisso para que não sejam levados a se perguntar, porque o teatro está vazio.

Recomendações da Coluna:
Com pequenas restrições: A Varinha do Faz de Conta. Você Tem um Caledoscópio?; e A Viagem do Barquinho.