Clara Machado: acertando de novo

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Bruxinha passa, mesmo reprovada

Ter em mãos um texto de Maria Clara Machado é por si só uma garantia para qualquer produtor. Especializada em teatro educação e teatro infantil, essa mulher misto de atriz, dramaturga e diretora do Teatro Tablado, no Rio, foi responsável pelo lançamento de artistas hoje conhecidos como Sura Berditchevski, Louise Cardoso e Wolf Maia, entre muitos outros. Há 34 anos ela vem  mostrando que sabe usar a linguagem certa para atingir o público mais exigente e sincero: as crianças. Entre suas obras pode-se citar, por exemplo: Pluft, o Fantasminha, O Cavalinho Azul, Aprendiz de Feiticeiro, e mais outros trinta sucessos absolutos.

Foi justamente pensando nisso que o Grupo Teatral Querubim escolheu o texto A Bruxinha que era Boa. Um dos mais lúdicos de toda a obra de Maria Clara Machado, ele fala de um grupo de jovens feiticeiras que se prepara para passar num exame, promovido pelo Bruxo Belzebu, Senhor da Floresta. O enredo, simples, e acessível para crianças a partir dos quatro anos, aborda a questão da liberdade pessoal na escolha de caminhos, e na opção de satisfazer ou não expectativas alheias. E fala de uma bruxinha que não possui maus instintos, e se envergonha por isso. Ao contrário de suas colegas, seu grande sonho é passar no exame, não pelo puro prazer de fazer mal às pessoas ou à natureza. Mas simplesmente para ganhar o prêmio – uma vassoura à jato – que lhe permita voar mais alto, acima das árvores e dessa forma se distanciar dos problemas terrenos. Enfim, ela quer mais é se alienar.

Apesar de maniqueísta, dividindo a humanidade entre bons e maus, o texto cria uma abertura ao mostrar que a escolha depende apenas da própria bruxinha. E, como o Complexo de Cinderela existe, está aí e não pode ser negado, ela quer se ver livre das expectativas do grupo a que pertence, mas não tem coragem de fazê-lo sozinha. Pede então ajuda a um garoto, o Pedrinho, muito bem interpretado por Eduardo Chagas Netto, o próprio diretor do espetáculo.

Leve, ágil, com cenário correto e figurino caprichado, essa montagem tende a ser um dos grandes sucessos da temporada. E vem provar a antiga tese de Maria Clara Machado de que as crianças de hoje, mesmo interessadas no cosmo e na tecnologia, ainda se interessam pela fantástica magia das fadas, bruxas e duendes.

Apenas um detalhe precisa ser corrigido, e com urgência: trata-se da sonoplastia. Nos números musicais, os artistas cantam completamente dissociados do som, que é baixo, não “enche” o teatro que por si só já não tem boa acústica. Isso desvaloriza as coreografias, e ofusca a qualidade das músicas que, em sua maior parte, são boas.

A Bruxinha que Era Boa, de Maria Clara Machado, direção de Eduardo Chagas Netto. Em cartaz no Espaço Mambembe, até o final do ano. Sábado às 15h30, domingo duas sessões às 10h30 e 15h30.