Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 15.08.1981

Barra

Mais um cientista louco 

A Bombinha e o Sonho, peça premiada num dos concursos do Serviço Nacional de Teatro, de autoria de Pernambuco de Oliveira mostra a manipulação existente por trás dos interesses econômicos ou políticos. E alcança seu momento poético quando a bomba, lutando contra seu “destino de bomba”, resolve se transformar e vira uma flor. As crianças, na verdade, estão muito pouco interessadas em manipulações, em política ou economia: elas querem é torcer pela bombinha simpática, vítima de uma situação e que resolve ir à luta. O problema maior do texto é que, em todo o primeiro ato, há um peso muito grande em cima do personagem do cientista; e esse cientista, pobre dramaturgicamente é o mais chavão; é doido e desumano. O chavão é ainda reforçado pela direção e pela interpretação; o cientista é doido, desumano, dá pulinhos, faz palhaçadas, cai no chão, se enrola todo, se atrapalha com os objetos etc. Ou seja, aquilo que todo mundo está cansado de ver. O problema principal da direção do espetáculo está aí: o diretor Luiz Oliveira quis trabalhar basicamente em cima do humor. Infelizmente, as palhaçadas e movimentações acabam caindo naquela coisa sem graça que procura ser engraçada. E é uma graça sem a menor criatividade: tudo já visto e revisto. É um circense comicamente pobre. Além disso, a peça carece de ritmo e de clima. Todo o ritmo alucinado do cientista, aliado à sua maneira de falar e de se movimentar, acaba sendo mortal para o ritmo da peça que, apesar de toda a correria, acaba tendo truncado seu desenvolvimento. A interpretação “agoniada” do cientista acaba se tornando angustiante para o espectador; o cansaço do cientista nos cansa; e seu ritmo aceleradíssimo em nada contribui para o interesse do espetáculo. Já no segundo ato, sem a agonia do cientista e com um texto mais dinâmico, as coisas melhoram. A luta final, entretanto, é cenicamente pobre, sem expressividade. O melhor momento da encenação é, sem dúvida, o final, com a transformação da bomba em flor; tem emoção, tem envolvimento. O cenário de Pernambuco Oliveira é outro fator de desinteresse. Tendo que se adaptar ao cenário da peça adulta. Pernambuco não encontrou uma solução satisfatória e o espectador em momento algum tem a impressão ou a leve sugestão de que está vendo uma casa laboratório de um cientista (ainda mais louco). O elenco é irregular. Destacam-se Rita Calléia (Ajudante Bobofe), com verdade, boa comunicação, clima, humor; Henrique Costa (Presidente Ursso): Sidney Marques (Homem Preto) e Elizângela (utilizando bem um toque brejeiro, estabelecendo uma boa comunicação com a criançada, mas mantendo ainda um tom de fala meio tatibitate). Nesta primeira produção de Marcos Vogel a qualidade artística não esteve á altura de suas declaradas boas intenções. Aliás, um dos aspectos positivos da produção está na entrada gratuita dispensada aos orfanatos. O que mostra um produtor que pensa não somente na bilheteria, mas também nas crianças.