A Bela e a Fera volta ao Teatro dos Grandes Atores, com elenco e direção novos, em montagem convencional que agrada ao público

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 23.03.1996

 

 

Barra

Receita da Disney no palco

A Bela e a Fera, produção paulista de Lucas Mansor, chega ao Rio assistida por um público de 25 mil pessoas em sua temporada em São Paulo. O espetáculo, que estreou em janeiro no Teatro dos Grandes Atores, na Barra, volta agora totalmente reformulado ao mesmo palco. Além da mudança do elenco – só permanece da montagem paulista a atriz Mirella Timpani -, mudou a direção, agora a cargo de Markus Avaloni.

Avaloni, que vem marcando a sua carreira com versões ousadas para clássicos como O Casamento de Dona Baratinha – onde a protagonista não é uma inocente mocinha, mas uma jovem senhora, investindo tudo num pretendente, em cenário anos 60 e ao som de Rita Pavone – ou ainda em Viagem ao Céu, de Monteiro Lobato, com Emília sendo representada por um ator, faz o caminho contrário em A Bela e a Fera.

Investindo numa leitura linear Avaloni conduz o espetáculo de modo que a história se conte sem margem para a análise psicológica dos personagens, ou qualquer tipo de especulação filosófica sobre o mito da beleza ou dos amores impossíveis. Sua contribuição, no entanto, fica com a inserção de humor para personagens coadjuvantes, que acabam ganhando a simpatia da plateia.

O texto adaptado por Tatyana Dantas mistura personagens originais com os criados pelos Estúdios Disney – Candelabro, Relógio e Samovar – numa composição um tanto irregular. A novidade fica no prólogo, onde é mostrada a ação da feiticeira, que transforma o príncipe muito vaidoso na horrível Fera. O antídoto é o convencional, “eu te amo do jeito que você é”. Uma das diferenças entre o teatro e a vida real. O texto de Tatyana propõe ainda uma sucessiva troca de ambientes não solucionada pelos cenários de Kevler Ravanelli. O excesso da troca fica tão evidente, que o público já antecede a mudança acompanhando com palmas a vinheta musical escolhida para a troca de cena.

Os figurinos de Isabelle Elizeon, bastante desiguais, reproduzem a estética Disney para os personagens do filme, dá um toque de sociedade aos personagens de apoio e exagera nas cores e brilhos das vestimentas da Bela.

No elenco, tirando um certo humor das situações, o trio Sofia Torres (Samovar), Eduardo Rasberge (Lumière) e Leandro Wagner Goulart (Horloge), tem instantânea empatia com a plateia. Também seguindo a linha da comédia, Sérgio Fonta, como o pai de Bela, Cláudia Puget e Michelle Machado, como as irmãs malvadas, e Celso André Monteiro no galã Gaston. Mesmo em performances mais contidas, o par romântico Mirella Timpani e Iran Melo envolve a plateia com sua trama.

A Bela e a Fera, propositalmente sem muitas invenções, é um retorno ao teatro convencional, sem provocações ou busca de uma nova linguagem. Mesmo não seguindo os padrões das atuais produções dedicadas aos públicos infantil e jovem, o espetáculo conta a sua história.

Cotação: 2 estrelas (Bom)