Crítica publicada no Jornal O Dia – Pág. 10
Por Armindo Blanco –  Rio de Janeiro – 05.02.1993

 Barra

Para todas as idades

Para escrever A Bela Adormecida, o jovem Luca Rodrigues percorreu grande cópia de autores que se inspiravam na mitologia de Eros e Psique, desce Apuleio, que viveu entre os anos 125 e 170 depois de Cristo, a Fernando Pessoa e Jung, passando pelos músicos (Tchaivowski, Wagner), os pintores (Doré, Burne-Jones) e os cineastas (Cocteau, Disney). Por isso a sua versão atravessa dois milênios, com o príncipe Azor renascendo em várias épocas até vencer Malévola e, enfim, resgatar Bela.

Como produtor, Luca Rodrigues, não olha as despesas: a cenografia de Dóris Rollemberg é suntuosa, com as suas pontes, os telões, o lago; os figurinos de Jefferson Miranda são bordados de heras e flores secas, indicando o curso do tempo; e o elenco foi muito bem selecionado, reunindo Anna Aguiar na Bela, o próprio Luca (também diretor) no príncipe, Deborah Catalani na Fada Morgana, Cristina Montenegro na feiticeira, Newton Martins no paciente mestre e guia de Azor e ainda três bailarinas do Balé Contemporâneo do Rio: Andréa Bergallo, Cláudia Radusewski e Luciana Yegros, três negrumes quando compõe a sinistra corte de Malévola, mas floridas e alvissareiras quando anunciam a vitória da luz sobre as trevas.

Bonito e extremamente sedutor. E não só para crianças: adultos se sentem muito a gosto nesse universo poético, em que as trincheiras de arame farpado, símbolo de um mundo sempre em guerra, podem ser removidas pela força da arte e não da espada.

Quer dizer: é um espetáculo para todas as idades. E que confirma o múltiplo talento que esse surpreendente (até pelos verdes anos) Luca Rodrigues já deixaram antever em A Bela e a Fera, a primeira parte da sua trilogia, sobre o despertar e o encontro, que terminará com A Bela e a Pele de Asno.

Independentemente da faixa etária a que se destina, A Bela Adormecida é uma das melhores e mais bem acabadas montagens em cartaz. Teatro Sesc-(Tijuca), Barão de Mesquita, 359, sáb. e dom. 18h, ingresso: Cr$ 30mil.