Letícia Monte (E), Carolina Virgüez e Marcelo Valle: bom desempenho.
Foto Murillo Meirelles

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 16.07.1994

 

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Casamento feliz de talentos

Denise Crispun, autora de A Babá, é uma fã de personagens. Misturando aos seus próprios tipos outros já consagrados pela literatura e divulgados pelo cinema, ela vai entremeando suas histórias com notáveis da melhor qualidade. Em sua adaptação de Os Sapatinhos Vermelhos, de Andersen, Nina – a dona dos sapatinhos – contracenava com a Rainha de Copas, dos livros de Lewis Carroll. Em outro texto seu, Arraiá, os irmãos que saem de Copacabana rumo ao interior do país encontram pelo caminho Dorothy, de O Mágico de Oz, carregando nas costas o tufão que destruiu o rancho de Tia Emma, no Kansas.

Se nessas peças os famosos são só uma citação, o mesmo não acontece em A Babá, inspirada em Mary Poppins. A musa por pouco não fica em cena além do tempo permitido. No entanto, passado o momento inicial, onde são lembradas literalmente as cenas dos estúdios Disney, a história que se segue é de Denise Crispun.

Numa dessas famílias com pais ocupadíssimos, os irmãos Maria e Miguel estão entregues à própria sorte, até que, voando sobre as chaminés da cidade, com seu guarda-chuva mágico, surge Babalu, uma babá pouco convencional, que brinda sua chegada com um xarope que muda de sabor conforme o gosto do freguês. Como ninguém está resfriado, esta cena, tirada do filme, acaba inserida no texto fora de sequência. Após esse take, porém, Babalu se revela uma eficiente brincalhona. E é desse jeito que todos acabam descobrindo um mundo interessante, que afinal de contas não é tão inacessível assim.

César Augusto constrói o espetáculo com cenas cleans, quase estanque, sem, no entanto, prejudicar a unidade da encenação. Perfeitamente afinadas, a trilha musical (recolhida pelo diretor em colaboração com Andréa Zeni e Beto Brown), a iluminação e a coreografia (estas de Beto Brown) formam o que se pode chamar de casamento feliz de talentos. Os figurinos de Ruy Côrtes de novo se destacam pela ousadia, deixando o espectador – se não o comum, pelo menos o mais atento – ávido pela próxima atração.

Carolina Virgüez interpreta Mary Poppins / Babalu com especial humor, nada caricatural, conduzindo o enredo sem o habitual peso das personagens principais. Letícia Monte empresta a Maria a leveza necessária à representação de uma criança. Surpresa é a excelente performance de Marcelo Valle, num papel (Miguel) que cresce com espetáculo.

Sem muito alarde, a peça cativa à plateia e conta a sua história. Melhor ainda ficaria se Mary Poppins voasse de vez para Londres e Babalu reinasse absoluta.

A Babá está em cartaz no Teatro Ziembinski, aos sábados, às 16h, e aos domingos, às 17h. Ingressos a R$ 3,00.

Cotação: 2 estrelas (Bom)