Matéria publicada no Jornal Última Hora
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 01.09.1979

Barra de Divisão - 45 cm

Apenas um conto de fadas…

Apenas um conto de fadas estreou no Rio, no Teatro Vanucci, Shopping Center da Gávea, com o objetivo de ser uma revolução no texto infantil. Procura encarar a criança no seu contexto atual, em que a fantasia se mistura com a realidade cotidiana a cada momento, uma vez que, na TV, seu mundo de histórias esta amplamente contaminado: Mônica vende extrato de tomate e as fadinhas anunciam cosméticos.

Eduardo Tolentino de Araújo, autor e diretor, dá ao seu texto uma visão crítica do mundo de hoje, ao mesmo tempo que recupera para as crianças o mundo da fantasia. Uma maneira atual de voltar a conviver com fadas, duendes, mágicos e bruxarias…Mas uma nova forma de encará-los.

Embora a equipe tenha montado com luzes e cores um espetáculo infantil, ele dirige-se também a adultos e adolescentes, já que hoje em dia os mundos se misturam e a criança não consegue ver mais os seus programas sem estes estarem misturados com o Jornal Nacional e seu bom quilate de agressividade diária.

O texto tem também como objetivo devolver aos pais o direito de se divertirem com um espetáculo infantil, enquanto as crianças vão vendo seu ídolos recuperados de um mundo onde, segundo uma das bruxas, personagem da peça, “as antenas de televisão atrapalham o vôo das vassouras”.

A surpresa da equipe é o número de adolescentes na plateia. Eles foram, descobriram o trabalho através de amigos-atores e voltaram somente para curti-la. É como se fosse uma viagem rápida à infância, mas com os olhos de hoje.

O espetáculo é um musical onde Oscar Carrera Jr pauta todo o ritmo das canções em nossas origens.

A direção, aliás, não fez economia de atores, e cerca de 16 deles invadem o palco, acompanhando o sonho de um casal de meninos que faz uma viagem ao reino da fantasia, atualmente em crise devido à falta de crianças interessadas nele. A fada feminista passa a defender os seus direitos como mulher; o grilo filósofo escreve uma tese sobre uma espécie em extinção – crianças; a fada velha já confunde histórias, enquanto Maléficus e o Mágico do Bem brigam, interminavelmente, pelo poder. Outras bruxas tomam o chá das cinco e estão muito interessadas em aparecer na coluna do Ibraim Bruched.