Critica publicada na Revista Isto É
Por Alberto Guzik – São Paulo – 29.08.1979

Barra

Sonho de uma Noite de Verão

O original de Shakespeare, provavelmente escrito em 1594, não passa de uma brincadeira risonha e sensível. A misturada de amores contrariados, fugas pela noite, fadas, duendes e uma companhia de ineptos amadores que ensaia a “farsa muito trágica” de Píramo e Tisbe foi alinhavada com fluência e lirismo pelo poeta inglês. E o próprio autor recomendava à plateia que desculpasse as eventuais falhas da obra, considerando-a, mesmo, como um sonho apenas.

A adaptação infantil de Rodrigo Paz conservou os episódios referentes aos atores e às entidades sobrenaturais, eliminando da história os encontros e desencontros dos namorados. Assim fazendo, conservou na narrativa o que ela possui de mais dinâmico e divertido. A produção ambiciosa e esforçada, ao menos no cotidiano do teatro brasileiro para crianças, deu ênfase ao aspecto lúdico do espetáculo e, com o auxílio de um excelente visual, conseguiu um trabalho de valor.

Seria uma alegria multiplicada se todos os fatores componentes do esforço fossem homogêneos. Nas interpretações, porém, está o maior senão do jogo. Sempre que devem dançar ou cantar, os atores perdem visivelmente em energia e intenção. Por outro lado, em muitos deles nota-se um acentuado traço de amadorismo na composição dos personagens. Ainda assim, a dimensão da empresa, a direção ágil e a ótima cenografia fazem desse Sonho de uma Noite de Verão um dos melhores trabalhos que se destinam ao público mirim na presente temporada.

Serviço
de William Shakespeare, adaptação livre, para crianças, de Rodrigo Paz. Direção de Roberto Lage, músicas de Sérvulo Augusto, produção dos grupos Alcázar e Acalanto. Teatro Anchieta. São Paulo.