Programa do espetáculo para a circulação do projeto EmCena Brasil, 2002

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

BR apresenta
Priscila Camargo

BOCA A BOCA II – A ANTIGA ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

Nesta terceira incursão, pelo mundo mágico das Histórias Milenares, acompanhada praticamente do mesmo grupo de profissionais e amigos, ousei caminhar por Tradições que vão desde a cultura Esquimó até a rica e mística Indiana; da filosofia Sufi, a um belo exemplo da tradição Judaica (chassídica), de uma bem humorada História, que nos conta um pouco da alma Portuguesa, a um “pé” na áfrica, num conto Etíope.

Abrir esse leque de Histórias, nasceu de uma sugestão do Diretor e amigo Domingos de Oliveira e a possibilidade de tocar várias culturas e encontrar pontos de contato entre elas me encantou.

Apresentamos o Amor, em diversos níveis: homem-mulher, mestre-discípulo, pai-filho e o supremo amor à vida. Várias culturas, mas a mesma intenção de trazer luz, acalmar o espírito e falar diretamente ao nosso coração e à nossa alma.

Trabalhar com arquétipos, falara de fé, esperança, luta pelo amor, reconstrução e através das Histórias, proporcionar uma viagem de encantamento, possibilitando uma reorganização e uma harmonização internas, foi o que me motivou a contar essas Histórias.

Este Boca a Boca II é para mim uma trilogia. O primeiro, veio de 1996 e este ano ainda (2001), no CCBB montamos o Caldeirão de Histórias, para crianças.

As Histórias que apresentamos aqui, vêm acompanhadas do talento de amigos amorosos, cujas contribuições nos possibilitaram levar avante este sonho.

Quero agradecer: ao Chico Spinosa, um artesão, que faz e refaz cenários e figurinos praticamente a mão, numa criatividade generosa e genial.

Ao Aurélio de Simoni, amigo-irmão, que além da inspiração, traz sempre o seu humor e muita paz, qualidades indispensáveis na reta final.

Ao Marco Antonio Rezende, meu fotógrafo favorito, agradeço o cuidado e a busca do melhor para o trabalho.

À Elzinha, assistente, terapeuta e amiga agradeço a sintonia e o carinho.

À Fabiana Martins, bailarina e preparadora corporal, a força e o incentivo..

À amiga Nilda Coutinho, meu agradecimento sempre.

Ao Maestro Rogério Cauchioli, amigo de adolescência, a alegria de poder contaar com tão inspiradas músicas.

Ao Domingos Oliveira, a atenção e os “toques” precisos, amorosos e sábios. Obrigada pela amizade e pelo coração.

Ao músico Natan Erlichmann (Niel), mais do que o sentimento que coloca em tudo o que toca, agradeço a presença em cena e na minha vida, “dividindo as águas” do meu coração e modificando a minha história. Meu amor, tornado marido durante este traballho, a você eu dedico, com a permissão do público, este espetáculo

Agradeço ainda a todos que direta, ou indiretamente nos ajudaram a tornar possível este projeto em especial à nossa Patrocinadora: BR-Distribuidora, sem a qual realmente este sonho não seria possível.

Tenham todos um bom espetáculo!

Agradecimentos

Eleonora de Martino Salin, Paulo Querette, Humberto Braga, Angélica Salazar, Luiz Fernando Coutinho, Natacha Stein, Marcus Garrido, Adriana Zebulum, Issac Jarlicht, Nilson Raman, Marcelo Castilho, Severina do Carmo, Leina Crespi, Ana Maria Nascimento, Marcelo e Rozélia Gil, Lucia Cidade, Sandra Lopes de Almeida, André Guimarães, Valéria Faro, Francisco Homem Cristo, José Arriaga e Cunha, Joaquim Cabral Guedes, Ângela Herz, Gizlayne Matos, Hércoles Jaci, Dr. Jaime Treiger, Tânia- Fundação Avatar, Suely Martinho e Paz, Nícia Grillo, Fernando Gomes, Dilma e Vitória – by Maira, By Maira System, José Jesus Magalhães, Imagecolor – Barbero, Clínica Pomar, Clarissa Pinkola Estés, Claude Mallet, Aliança Francesa de Botafogo, Tia Fernanda, Minha família de Portugal e do Brasil. E aos meus pais, Antonio e Tereza.

“Não importa se a História se passa no Polo Norte ou no deserto, elas se passam sempre, dentro de cada um de nós”.

Roteiro das Histórias

Isso Também Passará (Sufi): O imponderável. Um Rei guerreiro deseja ter domínio sobre os seus estados de ânimo.

A Mulher Esqueleto (Esquimó): O amor além das aparências. Uma mulher é jogada nas águas profundas do maré é salva por um homem solitário.

Tia Miséria (Portuguesa): O amor à vida. Com humor e astúcia, uma velhinha tem um confronto direto com a morte.

O Dom da História (Judaico) O amor ao ensinamento. Um famoso rabino transmite aos discípulos como ver Deus.

O Destino da Princesa (Indiana): O amor vencendo todas as barreiras. Uma princesa corre mundo e luta até contra o sobrenatural, pelo amor do seu bem amado.

O Velho e as Três Moedas (Africana): O amor paterno. Um pai dá, amorosamente aos filhos, a lição de que o verdadeiro conhecimento vem de dentro para fora.

Vida-Morte, ou a Vida é um Instante!

Este espetáculo começa depois de uma quase morte.

Dia 9 de setembro, dois dias antes de vermos, pela televisão, completamente impactados a possibilidade da destruição deste nosso mundo, um tombo, seguido de um escorregão, me levou a deslizar num limo e a cair de uma grande pedra, na praia de Itacoatira em Niterói.

Como no tobogan, nada engraçado, fui para debaixo de um mar bravio, onde antes tinha avistado até pequenos tubarões.

A sensação de estar diante da morte, só foi quebrada pela inexorável realidade: “caí no mar e tenho que lutar!”

O mar me puxou para as profundezas e por sorte, para longe das pedras.

Naquele momento da minha eu estava muito feliz, e meu estado de amor certamente me deu forças e eu só pensava: “eu não vou morrer agora, eu não vou morrer desse jeito!”.

Lutando com todas as minhas forças para vir à tona, eu pensava: “sou uma contadora de Histórias, tenho muita coisa para fazer ainda, não posso morrer agora”.

Então como por encanto, vim à tona, vi o Sol e pensei: “calma, boia e respira”.

Meu corpo se encheu de ar e eu inflei como um bote.

Chamei meu anjo da guarda e todos os seres que pudessem ajudar e me conectei com o Sol, como se um fio quase sólido me mantivesse segura a ele.

Acho que pedi em voz alta: “Deus me ajude, estou precisam da Sua ajuda”.

Rezei todas as orações que sei, em todas as línguas que sei, e de repente uma paz profunda tomou conta de mim e me entreguei:

“Senhor, seja feita a Tua vontade, estou nas Tuas Mãos”

Uma gaivota passou na frente do Sol e por um breve momento estive na eternidade e tudo era paz.

A sensação de Deus Mãe, feminino, me veio muito forte, pelo cuidado, por estar sendo “carregada”.

O pensamento dos tubarões que eu havia visto antes lá em cima, me vieram à mente, mas rebati o medo pensando: “Fui salva do afogamento, não serei morta pelos tubarões”.

De repente, o mar se encapalou e as ondas me faziam novamente engolir água, mas eu me acalmava e “punha a atenção na respiração”, dizendo a mim mesma que a ajuda física viria, o meu amor, que estava comigo no momento da minha queda, estava em terra e estava providenciando ajuda, eu tinha que fazer minha parte!

Não sei quanto tempo fiquei ali, tive consciência de que o tempo realmente é mágico, não lógico.

Num grande esforço, levantei a cabeça e vi não só que estava longe ainda das pedras, mas também que havia muita gente em cima.

A ajuda viria. Movi os braços para trás para me afastar mais, e na segunda vez que olhei, avistei um salva vidas vindo em minha direção: “Graças a Deus!”.

Disse a ele que estava calma. Ele me parabenizou “você fez a coisa certa”. E disse também “agradeça a Deus, porque você nasceu de novo, desse mar, quase ninguém sai com vida”.

Era só isso o que seu estava fazendo!

Passou mais alguns instantes e vi mais dois salva-vidas.

Saí daquele mar de helicóptero, acompanhada dos valentes bombeiros, Anjos da vida no plano físico.

Não quebrei nada, apenas pernas, pés, cotovelos e mãos ficaram arranhados.

Na praia, os olhares de compaixão das pessoas e as expressões de “vem-vinda”, “parabéns, você conseguiu”, me fizeram sentir ressuscitada.

E é com este sentimento que começo este trabalho.

Assim, como a Fátima Fiandeira, que contei no primeiro Boca a Boca, me salvei das águas e como a Mulher Esqueleto, que conto aqui, devo ter sido mesmo puxada pelas costelas, por Deus.

Reafirmo então o meu compromisso:

Contas belas histórias que façam as pessoas viajarem pelas profundezas das suaas almas e voltarem renovadas e cheias de vontade de viver!

Buscar histórias que possam, além de divertir e emocionar, proporcionar uma opção de crescimento interno, de Luz no fim do túnel, nestes nossos tempos tão conturbados.

Reativar esse patrimônio cultural da humanidade, é função do Contador de Histórias e é por isso que eu estou aqui.

Com humildade e com a permissão de Deus.

Boca a Boca II – A Antiga Arte de Contar Histórias

Priscila Camargo

Texto: Histórias da Tradição Oral Universal
Supervisão Geral: Domingos de Oliveira
Direção: Priscila Camargo
Cenários e Figurinos: Chico Spinosa
Iluminação: Aurélio de Simoni
Músico: Natan Erlichman
Arranjos e Trilha Sonora: Maestro Rogério Cauchioli
Assistente de Direção: Elza Lopes de Almeida
Montagem: Guilherme Xavier
Adereço: Fernando Sant’Anna
Costureiras Sara e Deyside Rios
Contrarregra: Alexssander Gomes
Preparação Vocal: Maria Célia Guedes
Música da Princesa: Maria Célia Gomes
Preparação Corporal: Fabiana Martins
Estudos das Histórias: Angela Phillippini
Fotos: Marco Antonio Rezende
Ass. Imprensa: APPOACH – Cecília Morais
Projeto Gráfico: Guilherme Pastura- Inkart
Gráfica: Barbero
Pré Produção: Nilda Coutinho
Produção Executiva: Natan Erlichman
Coordenação de Produção: Priscila Camargo
Produção: Hangar Produções Artísticas Ltda.

Patrocínio

(Logos) BR Distribuidora, Ministério da Cultura, EnCena Brasil, Associação de Amigos da FUNARTE

Apoio

(Logos) Lidador, Parque dos Tecidos, Demillus, Hair by Dudu, Chapeaux, Roma Assessoria Contábil

Obs.
Este espetáculo teve sua temporada de 11.01 a 17.03.2002 na Casa de Cultura Laura Alvim