Programa do espetáculo que estreou no Teatro Villa-Lobos, em 19.04.1986

Cartaz (52,5 x 35), 1986

Lambe-lambe (96 x 65,5 cm), Teatro Villa-Lobos, 1986

(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA)

(Capa)

O OURO DAS ESTRELAS

Tonio Carvalho

Ebal

(Verso da Capa)

(Logo) Editora Brasil-América

© do texto, 1986 Tonio Carvalho
Texto de Tonio Carvalho
Capa e Ilustrações de Vicente Maiolino
Programação Visual: Malu Fatorelli

É vedada a reprodução total ou parcial desta obra sem a prévia autorização da editora.

Direitos para a língua portuguesa reservados à Editora Brasil-América (EBAL) S.A.
Rua General Almério de Moura, 302-320
20921, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1986
Impresso no Brasil
Printed in Brazil

(Página 01)

Tonio Carvalho

O Ouro das Estrelas

Capa e ilustrações de Vicente Maiolino
Editora Brasil-América (EBAL)

(Páginas 02 a 16)

Era uma vez um menino. Um menino como tantos outros meninos. Um menino como eu, que conto esta história. Um menino como você, que sonha viver aventuras mirabolantes em outros lugares do Universo.

Tudo começou num dia quente de verão. Num mundo dividido entre perdedores e ganhadores, ricos e pobres, fortes e fracos. Num país onde havia ordem, progresso e obediência. Um país comportado.

O menino brincava com uma menina que acabara de conhecer. Uma menina diferente. Com diferenças que ele nem mesmo sabia explicar. Mas pra que explicar?

De repente, aquele grito zangado:
– Menino! Entra já pra casa! Tá na hora do jantar!

– “Droga”! – pensou ele, cansado das constantes broncas de seus pais.

– “Sempre me chamam na hora mais gostosa da brincadeira”.

Na casa, fria e arrumada, apenas um papagaio como amigo.

O jantar, sempre igual, naquela noite ia acabar diferente, depois da rotineira boa-noite dos pais e da ordem de desligar a televisão e ir dormir, aconteceu a coisa mais incrível da sua vida! Até hoje ele jura – e hoje ele é muito mais velho – jura que nunca mais viu nada igual!

A televisão ainda estava ligada quando ele viu a noite chegar. Era uma figura toda de preto, com muitas estrelas e luas em sua capa, acompanhada de um fiel seguidor – um corvo!

– Eu já não disse pra desligar a televisão e ir dormir?

E era como se a sua mãe falasse pela boca daquela estranha criatura. Ele ficou apavorado. Ainda mais quando o corvo ameaçador avançou sobre o seu papagaio cheio de garras e dentes e o levou embora pela janela do quarto sem deixar rastros ou qualquer pista!

– Omaetue! – chamou o menino.

“Omaetue” era a palavra com a qual brincava com o seu papagaio. Uma palavra nova, diferente, quase engraçada, à qual o papagaio respondia currupacando.

– Omaetue! – gritou ele, mais alto.

Enquanto isso, na televisão, que desobedientemente permanecia ligada, ouvia-se a Dupla Simbiótica – uma Dupla terrível que assolara o espaço sideral no seriado O Ouro das Estrelas, que arquitetava um terrível plano: encontrar o velho mago, destrui-lo e ficar de posse do segredo do ouro das estrelas!

– “Omaetue!” e de repente a noite se fez dia da forma mais estranha possível! Parecia que tudo estava se transformando… era como se o menino viajasse em direção a outro tempo, outro lugar, outra dimensão! O seriado continuava na tevê e ele já não sabia mais o que era realidade e ficção!

Parecia que tudo o que lá se passava, assim se passava com ele também! Seria ele agora um herói de ficção? O herói de O Ouro das Estrelas, o seriado da tevê?

– Omaetue! – uma voz respondeu como que chegada deste novo e estranho mundo.

E, de repente, o menino viu surgir à sua frente um velho de barbas brancas. Era como o sol nascendo e iluminando toda a ilha! Era este o lugar aonde chegara!

O velho mago e o menino conversaram muitas e muitas coisas. Tudo era diferente para ele.

Compreender todos aqueles novos sentimentos era algo que o fascinava. O mago sabia muito bem que meninos espertos como aquele existiam aos milhares. Muitos e muitos, todos iguais. Sabia também que cada um podia descobrir diferenças, desde que soubesse ver com o coração. E, num lance de pura magia, tirou do seu peito uma pequena bola de cristal – como um coração – através da qual tudo se podia ver!

O menino a tudo assistia, enquanto o velho contava a história do mundo. Histórias de magias e feitiçarias. Histórias do tempo em que as pedras do céu eram luminosas como os brilhantes, os rubis e as esmeraldas! Parecia que ela participava da criação do Universo!

– “Que fantástico!” – pensou, deslumbrado, vendo toda a ilha através do coração de cristal do velho mago.

Será que o corvo havia trazido o seu papagaio para um lugar tão bonito? Não! Lugar tão lindo não poderia acolher criatura tão terrível! O velho mago não tinha o que temer! E, assim pensando, dele foi se afastando em direção ao outro lado da ilha, atraído por um canto – o canto sedutor de uma sereia que lindamente se penteava num lugar todo verde, que parecia um lago.

Ele foi se aproximando, se aproximando, enamorado por sua beleza, quando subitamente uma enorme cobra-d’água saltou de dentro do lago e quase abocanhou a pequena sereiazinha! Ela desapareceu como por encanto entre as águas e a cobra mergulhou em seguida. Quase imediatamente, uma gigantesca figura foi surgindo: parecia que o próprio lago tomava a forma de um enorme papagaio! Seria o seu velho amigo? Mas tão grande! O que teria acontecido?

Nada!

Em segundos, o enorme papagaio arrancou o seu disfarce e mostrou a sua verdadeira identidade: era a Dupla Simbiótica – ela mesmo! Metamorfoseada!

O menino estremeceu! Uma terrível batalha se anunciava! Estava em jogo o equilíbrio do Universo: o velho mago, que tudo via através do seu anel de cristal, veio em sua defesa. E agora eram duas forças antagônicas que se defrontavam! De um lado, o velho mago; do outro, a Dupla tão temida!

– Você quer ou não quer rever o seu papagaio? – gargalhou ruidosamente a Dupla.

O menino desesperou-se. O velho mago tentou em vão impedir, mas o menino deixou-se atrair pela chantagem da Dupla Simbiótica. Pensou em usar a sua tremenda força, mas o menino corria perigo em mãos de criaturas tão hediondas! E agora, ele mesmo, o velho mago, Senhor do Universo, poderia sucumbir aos agressores!

– Qual o segredo do ouro das estrelas? – Insistia. – Responda! Estou lhe perguntando e quero que responda! Responda, vamos! Responda!

E como o velho mago guardasse o mais profundo silêncio, mais e mais irritada a Dupla foi se tornando! Os seus arquiinimigos destruidoramente avançaram sobre ele, e arrancaram-lhe o coração do peito! Uma esfera de cristal que era a chave do mistério do Universo! Raios e trovões e todas as forças da natureza manifestaram-se naquele momento de dor e violência! O mundo começava a assistir à sua própria desintegração!

O velho mago, escorraçado pelas chibatas da Dupla Simbiótica, ainda lançou uma última mensagem ao menino.

– Eu não gosto de meninos obedientes! Eu gosto daqueles que a vida inteira lutam como verdadeiros guerreiros sem tirar os olhos das estrelas!

A solidão do menino era total. O que fazer?
Como lutar se naquele instante se sentia perdido entre a obediência e a liberdade, entre a força das chibatas e o silêncio profundo do velho mago?

E a Dupla Simbiótica, usando de poderes ultramaléficos, enfeitiçou o menino, transformando-o totalmente através da maldição do canto das chibatas!

– Repita! – gritavam-lhe, girando ao seu redor. – Repita! O velho mago é meu inimigo! O meu coração tem que ser de pedra! Pedra!

– O meu coração… de pedra! O velho mago é meu inimigo! Dele vou arrancar o segredo do ouro das estrelas!

A maldição estava consumada!

Enquanto isso, em seu esconderijo, o velho mago, usando as últimas forças que lhe restavam, fazia vir à sua presença uma figura que poderia salvá-lo e ao menino: uma pequena fada. Uma linda criatura de olhos brilhantes e asas transparentes. Tão claras que se podia ver através delas o fundo dos mares e o azul mais distante dos céus.

Através do seu anel de cristal, mostrou-lhe: o menino tomado pela maldição da Dupla, procurando-o por toda a ilha, gritando enraivecido em direção às estrelas:

– Eu quero saber o segredo do ouro das estrelas! Eu quero ser rico, poderoso! Eu quero ser livre!

E a menina-fada, vendo aquela cena e a situação em que o velho mago se encontrava, deu-lhe um elixir feito de ervas que o fortaleceria por mais algum tempo. O mago então lhe falou:

– Ele não é livre! Só os homens livres sabem desse segredo!

– Agora vá descansar, velho mago!

– Eu não posso! As luas estão se juntando no céu! E quando elas estiverem bem juntas, todas as três, o coração deverá estar de volta em seu lugar! Do contrário, o segredo do ouro das estrelas será revelado! Mesmo para os que têm um coração de pedra!

E a menina, triste e emocionada pela revelação do velho mago, prometeu que tudo faria para salvar o Universo da destruição e correu em direção ao menino, desaparecendo na noite, à sua procura.

– Meu coração tem que ser de pedra! Pedra! – dizia ele, em seu delírio de menino enfeitiçado.

De repente aquela luz ofuscante! Uma menina! Uma menina diferente! Estranhamente diferente! De asas! Ele não saberia explicar! Mas pra que explicar?!

– Você voa? – perguntou-lhe, ao mesmo tempo sentindo que em seu peito um coração de verdade batia novamente.

O que teria acontecido? Estaria o menino desenfeitiçado? Teria ele se libertado da maléfica tortura da Dupla Simbiótica?

– Menino! Entra já já pra casa! Seu pai vai ficar sabendo, tintim por tintim, tudo o que o senhor anda fazendo!

Sempre assim! Quando a brincadeira se tornava mais e mais gostosa, era aí que acontecia chamarem-no de volta! Que droga!

E o menino voltou ao seu quarto. Mais do que depressa ligou a televisão. No vídeo, a imagem da Dupla Simbiótica e a voz do apresentador perguntava aos espectadores:

– Será que ainda há salvação para o velho mago? Quem poderá ajudá-lo a guardar o segredo do ouro das estrelas? Quem?

Ainda emocionado pelo encontro com aquela menina sem explicação aparente, respondeu como um verdadeiro herói:

– Eu! Eu posso! Omaetue! Eu posso! A ilha corre perigo! Será conquistada! Omaetue!

Mas nada acontecia. Nada mudava. Nada mais se transformava. O elo mágico fora rompido. Não havia mais comunicação entre o menino e o mago. O velho mago estava morrendo, e a Dupla Simbiótica estava próxima de alcançar o seu objetivo.

– Omaetue! – insistia o menino. – Omaetue!

Mas nada. Nada mudava.

De repente, sons cósmicos invadiram o seu quarto. Uma estranha nave espacial parecia ter atendido aos seus apelos. Estaria ele novamente vivendo fantásticas situações às voltas com as forças do Universo?

A nave mostrou-lhe o coração do velho mago, que brilhava, atraindo-o.

– Onde está a Dupla Simbiótica? O coração do velho mago estava em seu poder!

A Dupla Simbiótica tinha sido banida do sistema!
Essa informação deixou o menino bastante confuso! Como?! Como isto aconteceu? Então o velho mago estava salvo? Então a ilha não seria mais conquistada e nem molestada pela terrível Dupla? E o que fazia aquela nave espacial com o coração do velho mago? Seriam confiáveis mesmo? De que lado estavam todos? De que lado estava a nave? E a menina? E a Dupla Simbiótica? Teria sido mesmo banida? E ele mesmo, como se sentia diante de tudo isto? Seria o mesmo menino de antes? Seu coração pendia indeciso estre a riqueza e o poder e a sabedoria que só os homens livres possuem.

– Entreguem-me o coração do velho mago!

Esperto, o menino ameaçou enterrar um punhal no coração do velho mago e a nave surpreendentemente apresentou-se em sua verdadeira identidade: era a maldita Dupla de novo metamorfoseada procurando certificar-se da cumplicidade do menino. E este não decepcionou! De que lado ele estava, afinal?

A Dupla explicou que o coração não poderia ser apunhalado naquele instante. Havia um momento preciso em que isto deveria acontecer, pois aí o velho mago revelaria o segredo!

– Então deixem comigo! Eu vou arrancar este segredo dele! Transportem-me molecularmente até a ilha do velho mago!

E isto era tudo o que ele queria!

A Dupla Simbiótica transformou-se novamente em nave espacial. O menino entro dentro dela e gritou sua palavra mágica: Omaetue! Em breve estaria na ilha do velho mago.

A menina estava só e triste no mesmo lugar onde ele a havia deixado. A sua chegada não lhe trouxe o menor contentamento. Muito pelo contrário. O que ele quereria dela? Será que ele não tinha percebido que o velho mago estava morrendo? O que teria vindo fazer ali novamente?

O menino olhou bem dentro dos olhos daquela estranha menina. Uma luz forte parecia transbordar de dentro dela. Como era bonita! Que estranhos poderes tinha ela? Seus olhos faiscavam e pareciam dizer tudo o que ele queria saber! E seu coração começou novamente a bater descompassado. Que sentimento mais esquisito parecia percorrer-lhe todo o corpo. De repente, entendeu!

– Uma pedra vermelha! Como vamos descobrir uma pedra vermelha? É isso! Nós temos que conseguir uma pedra vermelha!

– Nós só podemos saber disso através do anel de cristal do velho mago! Mas eu vou sozinha! Não confio totalmente em você!

Esgueirando-se por entre a mata, ela chegou ao esconderijo do velho mago. Explicou-lhe a que veio, mas o velho mago já fraco e sem forças não dizia mais coisa com coisa. Parecia atormentado por visões fantásticas e fatais. Misturava dragões a lembranças passadas e a temores do futuro. As três luas o obcecavam. Seu fim estava próximo. O segredo do ouro das estrelas seria revelado. Parecia não haver mais esperanças!

E, no meio do seu delírio, misturava estranhas informações sobre a pedra vermelha que a menina procurava: “Um rubi! Uma gota de sangue precioso, brilhando no meio do barro”!

A menina voltou decepcionada para junto do menino. Havia perdido toda e qualquer esperança de salvar o velho mago. Ele parecia alucinado.

– Não fique triste – disse-lhe o menino – Vamos fazer um pacto! Você tem um espinho? Isso! Este serve! Vamos fazer um pacto de lutarmos juntos até o fim, para que o segredo do ouro das estrelas não caia em mãos inimigas!

E com o espinho espetou o dedo indicador da menina e depois o seu próprio e juntou-os num pacto. Uma gota de sangue pingou sobre uma pedra e imediatamente ela se transformou! Uma pedra vermelha, como uma gota de sangue preciosa brilhando no meio do barro! O velho mago continuava com seus poderes. Ele tinha tido a visão correta! Então havia possibilidade de salvá-lo! Era questão de tempo! As três luas estavam quase se juntando no céu!

– Corra! – disse ele à menina – Vá para junto do velho mago! No momento exato vocês atenderão ao meu chamado!

Sons ensurdecedores tomaram conta daquele lugar outrora tão tranquilo. O me nino, rápido, escondeu a pedra vermelha no bolso. O momento do grande confronto aproximava-se perigosamente.

– Aqui está o coração do velho mago! – dizia a Dupla, antecipando e festejando o seu triunfo. – As três luas já estão se encontrando no céu! É o momento final do grande mago! Ah! Ah! Ah!

Usando o poder da sua mente, o menino atraiu o velho mago até ao lugar onde se travaria a derradeira batalha. Um mago quase sem forças, à morte. A escuridão tomara conta de todo o seu ser.

– Eu mesmo quero matar o velho mago! Entreguem-me o seu coração! – disse o menino à Dupla.

A pequena fada odiou o menino nesse instante.

– “Que grande traidor!” – pensou ela, amparando o velho mago. – “E cheguei a acreditar nele!”

A Dupla tremia de satisfação! O seu menino continuava obediente como sempre! Deles seria o segredo do ouro das estrelas! Finalmente seriam ricos e poderosos! Mas aquele prazer! O prazer de apunhalar o coração do velho mago tinha de ser deles!

– Menino! Nós mesmos queremos ter este prazer!

– Se vocês assim o desejam!

E o menino entregou aquele coração frágil e quase sem vida À Dupla Simbiótica! Apunhalá-lo seria o golpe final de uma derrota já decretada!

Toda a natureza parecia não respirar, a aguardar em respeitoso silêncio a degradação final do império dos homens de coração sobre o Universo!

As três luas se juntaram no céu. A perigosa conjunção se confirmara. Um grito medonho e assustador varreu os quatro cantos siderais. Corações de pedra rolavam pelo espaço infinito! O peito da Dupla Simbiótica explodira! Era inacreditável! O que acontecera afinal?

– Depressa! Peguem o coração do velho mago! – conseguiu dizer o menino, sufocado sob o peso da Dupla, que, ao explodir, caíra sobre ele.

A menina-fada ainda custava a acreditar no que seus olhos viam.

– Você trocou?! Você conseguiu trocar o coração do velho mago pela pedra vermelha?!

– Depressa! – disse o menino – As três luas estão juntas no céu! Devolva o coração ao velho mago! Por mim!

E a menina, cheia de luz, resplandecente, recolocou o coração no peito do velho mago.

Omaetue! E o dia amanheceu claro e brilhante. O sol voltava a iluminar a velha ilha tropical. O mundo renasceu. Bananeiras, mangueiras e coqueiros voltaram a florir e a dar frutos.

– Levante-se daí – disse o mago ao menino

– Para voar, é preciso ser livre!

– Eu não posso! Eles pesam muito!

– Pode sim! – insistiu o mago. – Como foi que você chegou aqui?

– Dizendo “Omaetue”!

– Então – disse o mago -, você está do outro lado da ilha. É como se tudo fosse visto através de um espelho!

– Omaetue … como um espelho? Oma… e…t…tu…ue…eu…Eu!

– Isso! Eu! Continue!

– Eu…t…tu…e…Te! Eu te …oma…Eu te oma… Eu te amo! Omaetue! Eu te amo!

– Isso! – disse o mago. – A palavra é a mesma!

E como num passe de mágica, o menino saiu debaixo do peso daqueles terríveis bandidos! Estava livre! Livre!

– Velho mago! Agora eu tenho que ir! De verdade! Eu nunca vou esquecê-lo!

– Mas agora você já sabe o que veio fazer aqui?

Os olhos do menino não mentiam. Brilhavam. Em seu peito batia um coração de verdade!

– Adeus, meninos! Todo o Universo é um grande coração! Este é o segredo do ouro das estrelas! Agora vão! Um dia nós voltaremos a nos encontrar!

– Adeus, velho mago! Adeus!

Mais uma vez o velho mago ficara só. Olhou ao seu redor e viu aquele amontoado de pedras. Era o fim da Dupla maldita. Ele rodou a capa, e partículas de ouro dela se desprenderam. Como num passe de mágica, o que deles restava desapareceu. E o velho mago fez a maior demonstração de sua força!

– Omaetue! – disse uma voz currupacando.

– Omaetue! – é você! – respondeu o mago, acariciando o pequeno papagaio que pousou em sua mão.

E, sorridente, ainda pensou no menino e na sua pequena companheira. Baixinho, murmurou:

– Adeus, meninos! Meu coração vai com vocês!

O tempo passou, e hoje o velho mago é um menino que cresceu junto comigo e mora comigo, e é tão velho e cheio de histórias que a gente nem sabe se acredita ou não nelas. Mas ele é o meu menino e o meu velho também. E os dois gostam muito de ver um seriado que tem na televisão:

O Ouro das Estrelas

(Verso da Última Capa)

O Ouro das Estrelas estreou em 19 de abril de 1986, no Teatro Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, com a seguinte

Menino: Oberdan Junior
Mago: Tonio Carvalho
Mãe / Dupla Simbiótica: Carlota Maia
Pai / Dupla Simbiótica: Luiz Carlos Vasconcelos
Menina / Sereia e Fada: Dani Lima

Participações Especiais (vozes em off)

Locutor: Érico de Freitas
Locutora: Marília Brito
Apresentador do Seriado: Maurício Pinho

Autor: Tonio Carvalho
Direção Geral: Vicente Maiolino

 

Cenário e Criação dos Objetos Animados: Vicente Maiolino
Adereços, Efeitos e Realização dos Objetos Animados: Eduardo Andrade, Guto Lina e Itaércio Rocha
Adereços do Mago: Jena Kopelman e Marcelo Marques
Figurinos: Vicente Maiolino
Execução de Figurinos: Clarice Luzzi
Iluminação: Jorginho de Carvalho
Direção Musical: Maurício Gaetani, Patrícia Durães e Raquel Durães
Músicas: Raquel Durães
Teclados: Maurício Gaetani e Raquel Durães
Flauta: Patrícia Durães
Canto da Sereia: Raquel Durães
Preparação Corporal: Soraia Jorge
Programação Visual: Malu Fatorelli e Tonio Carvalho
Fotos: Flávio Guimarães e Ana Lúcia Richard
Direção de Produção: Tonio Carvalho
Assistentes de Produção: Maísa Paranhos e Flávio Soares
Criação dos books de Produção: Studio 305-Design
Administração do Teatro Villa-Lobos: Paulo Valente
Uma produção do Teatro Feliz-Meu-Bem

(Última Capa)

Eu não gosto de meninos obedientes! Eu gosto daqueles que a vida inteira lutam como verdadeiros guerreiros sem tirar os olhos das estrelas!

Ilustração: Vicente Maiolino