Programa para o Teatro SESC Tjuca, 1984

Filipeta para o Teatro Delfin, 1984

Convite da reestreia no Teatro Delfin em 18.09.1984

 

 

 

 

 

 

 

 

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA SESC TIJUCA)

(Capa)

ENSAIO Nº 1 – A TRAGÉDIA BRASILEIRA

de Sergio San’Anna

(Verso Capa) 

Dedico esse trabalho à minha mãe Therezinha, à minha filha Maria e a grande amiga Maura. Todos nós juntos oferecemos esse processo ao homem de teatro Yan Michalsky.
                                                                                                                                                                                  Bia Lessa

(Página 1 – Ilustração)

(Página 2)

Para Bia Lessa e seu Ensaio nº 1

Rio, 24 de agosto de 1984

Querida Bia

Quando Elza Maria, Neiton e eu procuramos o Teatro Delfim para alugá-lo em março deste ano o nosso único objetivo era produzir a minha peça Apesar de Tudo. Entretanto, os locadores do teatro estavam apenas interessados em arrendá-lo em tempo integral. A oportunidade era excelente, pois nosso curso de inglês – o Ann Arbor – estava fazendo cinco anos de existência em março, e desde sua criação sempre tivemos vontade de fazê-lo um centro cultural amplo. Imediatamente pensamos em fazer o Delfin funcionar como qualquer empresa – seis dias por semana, oito horas por dia, durante os seis meses que ele estaria conosco.

Hoje, olhando para trás, acho que exageramos um pouco. Trabalhamos sete dias por semana e várias vezes, mais que oito horas por dia. Tivemos o jovem ballet paulista. Agora, dois ciclos de cinema alemão de altíssimo nível (Win Wenders, Schlöndorf e kluge), o grupo de música moderna alemã Cassiber que nos impactou com seus originais instrumentos e seu jazz-rock, new wave, a visita do dramaturgo e cineasta Tankred Dorst com a leitura de sua peça Merlin pelo grupo Tapa e Nelson Xavier, debates e exibição de alguns de seus filmes que contaram com a participação de alguns dos nomes mais representativos de nossa classe teatral, e ainda no fim deste mês uma mostra do trabalho de Amir Haddad com seu grupo Tá na Rua discutindo a dramaturgia nacional. E mais de seis mil pessoas assistindo a Apesar de Tudo, além de enorme sucesso do nosso teatro infantil Camaleão e as Batatas Mágicas.

Mas por que contar isso para você Bia? Você já sabe de tudo. Muito simples! Queria repetir por escrito o nível da programação de nosso teatro para que você jamais tenha dúvidas sobre o valor e a qualidade que damos a seu trabalho, excelente continuação de parte das atividades do teatro a partir de setembro.

Quando conheci você, em um ensaio de sua peça, você me impactou com a forte energia que havia posto no belo texto de Sérgio Sant’Anna, mas que me parecia tão difícil. Você, com sua aparente figura frágil transmitia uma intensidade.

(Página 3 – Continuação)

dramática tão grande que era impossível não ficar preso ao espetáculo apesar da densidade do texto. Minha única preocupação era a seguinte: será que há público para um espetáculo como esse? Será que no meio do caos socioeconômico que estamos vivendo alguém se interesse em ver A Tragédia Brasileira também no palco.

Sim! Eu acredito que o espectador quer ver qualidade, e ele sabe reconhecer isso. Eu acredito ser muito difícil alguém não se sensibilizar com a história que o Sérgio e você vão contar. Elza Maria, Neiton e eu estamos orgulhosos em saber que você e seu grupo ocupar o teatro a partir de 4 de setembro. Estamos contentes em lançar o Sérgio como dramaturgo e dar espaço ao talento dessa jovem diretora cheia de sensibilidade e muito carinho. Ao sucesso, Bia!

Um abração
                                                                                                                                                                              Fernando Berto

PS. Também estou feliz em ver você dividindo de nosso teatro com o Bemvindo Siqueira. Os espetáculos de vocês dois se merecem.

(Página 4)

Ensaio. E nº 1. Marcando no próprio título o caminhar em busca de um horizonte que esta sempre além.

Cruzei com eles no caminho. E me deu alegria. Carinho. Emoção. Vontade de ver (ser) fonte de água clara que aliviasse a sede desse entusiasmo esforço (a) de experimentar, testar, questionar, (re) inventar, descobrir, ir, vir, e ir-e-vir até…

Até o espetáculo. Chegada? Não. Novo ponto de partida. Que não cabe nem se encerra na frase engravatada e solene: “pesquisa de uma linguagem dramática e cênica brasileira”. Por isso, espetáculo “algo para os olhos”, sim, como se ver a. Mas aqui, bem mais. Ânsia de comunicar. De tornar comum, de todos, esses ensaios aprendizado vivo, vivido, emocionado, inquieto e questionador

Comunicar a, com quem olha – plateia. Comunicar trazendo agora outras – os grupos de teatro do SESC do RJ – não para seguirem rastros, mas para, caminhando juntos, irem, tornando o caminho plural

E reaprendendo a sempre nova lição: “caminhante, não há caminho. Nós que fazemos o caminho, andando”.
                                                                                                                                                                     Maria Helena Kühner

(Página 5 – Ilustração)

(Página 6)

Adaptação do Autor, Sérgio Sant’Anna, do romance A Tragédia Brasileira
Direção: Bia Lessa

Elenco

Alice Koënow: Escrivã, Mãe de Jacira, Garçom
Ana Zettel: Sobrinha, Espelho, 2ª Menina, Puta
Bebel Nascimento: Jacira, a Atriz
Beth Zalcman: Mãe de Roberto, Entrevistadora, Astrônomo Ajudante
Clemente Viscaíno: Motorista
Isaac Bernat: Os Pais
Joice Niskier: Roberto Menino, Maria Altamira
José Ferro: Delegado, Padre, Astrônomo, Malandro
Josias Amon: Ama, Negro, Advogado, Bicha Interiorana
Lorena da Silva: Tia Entrevada, Entrevistadora, 1ª Menina, Espelho, Narrador
Sérgio Bloch: Autor Diretor

(Página 7)

Ficha Técnica

Direção Musical: Caíque Botkay & Xodó
Músicas: Caíque Botkay
Cenários e Programação Visual: Sérgio Magalhães
Figurinos: Lilia Maynardes
Iluminação: Luiz Paulo Neném
Assessoria Teórica: Ângela Leite Lopes
Assistente Assessoria Teórica: Fátima Saadi
Assistente Direção: José Ferro
Produção Executiva: Norma Dumar
Assistente Produção: Willian Taranto, Lorena da Silva & Bia Lessa
Adereços: Fernando Mello da Costa
Divulgação: Josias Amon
Fotos: Ney Robson
Administração: Norma Dumar & Willian Taranto
Operador de Som: Fernando Queiroz
Operador de Luz: Roberto dos Santos
Contrarregra: Pedrinho
Camareira: Maria Elisa de Lima
Costureiras: Lourdes e Equipe
Bilheteira: Maura Rangel
Porteiros: Jorge Luís da Silva e Eloína

(Página 8 – Anúncios – Casas Lindóia Tecidos e Formosinho Modas Ltda)

Lista de Agradecimento

ABBR – Oficina Ortopédica, Alfredo Mallet, Álvaro de Melo Salmito, Cacilda, Carlos Silva Augusto, CEAT – Centro Educacional Anísio Teixeira. Débora Serebrenick, Dirceu Nogueira Magalhães, D. Elvira – CEAT, EDEM – Escola Dinâmica do Ensino Moderno, Edílson, Fátima Saadi, Fernando Berto, Fernando Lyra, Fernando Sanches, Jaime Ariston de Araújo Sobrinho, Jorge Máximo, José Eduardo Borba, Seu José, Julio Levi, Luis Eduardo Lopes Gonçalves, Maria Da Penha Martins, Maria Helena Kuhner, Maura Mendes Dos Santos, Mauro Perel Mann, Neide Alvarenga, Norma Dumar, Paula Godilho, Dra. Regina Célia, Reinaldo Barreto, Rodrigo Pederneiras, Sandra Damasceno – Xerox do Brasil S.A., Sebastião Henriques Chaves, Dª Silvia Terezinha G. Ferreira, Tonico Pereira, Urbino Ubiratan Corrêa, Virgínia Case, Vitor José Menezes, Weber Silva de Oliveira, William Caranto, Yan Michalsky Zaine de Faria Neves Gomes da Silva

(Página 10) 

Esta é a história de um espetáculo imaginário. Um espetáculo que poderia se passar no interior da mente de alguém que fechasse os olhos pra fabricar imagens e delas desfrutar, diante de uma tela ou palco interiores (o espaço cênico não delimitado), como num sonho, só que não de todo inconscientemente ordenado.
.                                                                Sérgio Sant’Anna – Introdução ao romance A Tragédia Brasileira, em andamento

Menina de Óculos: Por falar nisso, e os outros rumores? Autor – Diretor: Que tipo de rumores? Menina de Óculos: Profissionais. De que sua peça nunca será definitivamente acabada. Autor – Diretor: É bastante possível. Porque há sempre novas ideias, a utilização de várias mídias: filmes, holografias, cheiros, ruídos. (pensativo.) Uma certa lassidão, a sua monotonia de uma sala de aula. Uma nesga de sol a penetrar pela janela, deixando ver, pairando ínfimas partículas de poeiras e de giz. Uma gota de suor prestes a pingar do rosto de uma menina. (Empolgado.) As visões e sensações de Roberto! E também do negro. Ou talvez possamos estabelecer com o público um relacionamento despojado, quase telepático. Consultaremos especialistas, médiuns, o diabo.
.                                                                                                         Sérgio Sant’Anna – Fragmento da peça A Tragédia Brasileira

Ao inacabar definitivamente o Grande Vidro em 1923, Marcel Duchamp certamente temia que, transformada sua ideia em obra, não só esta ideia como o próprio autor se tornassem cadáveres.
                                                                                                                                                                                           Wilhelm Gropius

(Página 11) 

Antes foi uma ideia. Tornou-se Roteiro de dança. E o universo povoado de imagens de Sergio Sant’ Anna ainda era puro desafio cênico. O próprio autor adaptar a obra resultava certa tranquilidade para a direção. Certa tranquilidade, expressão exata: refrabricar cenicamente situações imaginárias de alguém que se investe da poesia de criar um palco interior, dentro das próprias personagens, aliadas a realidade tragicômica poética da existência brasileira, às vezes, meramente constatativa teria que resistir (resistiríamos?) as nossas próprias preconcepções e limitações. Daí até aqui seriam nove meses de colocar-se em situação. De enveredar-se por estudos teóricos, por workshops, por conflitos internos, discussões quase insolúveis e finalmente a concretização do nosso 1º Ensaio

Fazer foi descobrir e constatar a ingenuidade do término. Término: apenas circunstância de uma etapa e estímulo a novas dificuldades

Dificuldades, que esperamos, venham acumular-se como números diante do nosso Ensaio. Ensaio nºs. 1, 2, 3, 4, 5…
                                                                                                                                                                                  José Ferro e Bia Lessa

(Página 12) 

A sabedoria popular nos ensina que a teoria, na prática, é outra… É em cima desse nó que o trabalho do “assessor teórico” vai se dar.

Teórico, ele se embrenha nos labirintos da criação, não como um guia, mas como mais um explorador ansioso em vislumbrar para onde aquele caminho o leva. Ansioso em chegar, mas ciente que cada passo detém em si um rumo, uma direção; a cada passo tem que se operar uma escolha. Cabe a ele discutir o passo, apontar os rumos, abrir terreno para a opção.

O que importa ressaltar nesse trabalho é menos a existência prévia de um saber que está sendo posto a serviço de uma montagem do que a engrenagem de um movimento de reflexão. Fazer desse movimento um gesto é tarefa da direção (e, obviamente, da interpretação…). O canal do trabalho tem que ser o da sintonia. O que entra em cena é o confronto de duas experiências: fazer, pensar. É a experiência do caminho que vai do pensar ao fazer e do fazer ao pensar. Aí a sintonia. Aí também o labirinto.
                                                                                                                                                                              Ângela Leite Lopes

(Verso Última Capa – Anúncio  Casa da Madeira) 

O que Falta na Ficha Técnica 

A Música da beatificação de Jacira foi composta por Mauro Perelmann no início do processo deste trabalho

A Bia achou o caixão do Roberto (O sentado na cadeira) folheando um livro do Magritte. Tentamos reproduzi-lo em 3 dimensões

O Homem de Terno e Psiquiatra: Roberto Rocha

(Última Capa – Anúncio XEROX)